A crise da Igreja
Nunca pensei viver o suficiente para ver a Igreja ser atacada frontalmente, inclusive com acusações diretas ao Papa. Esse tipo de acontecimento, nas proporções atualmente observadas, seria inimaginável há alguns anos. Discutia-se, sim, a atuação do Papa Pio XII a quem se atribuíam e atribuem omissões quanto ao nazismo. Vez por outra pipocavam acusações a padres, inclusive por casos de pedofilia. Entretanto, esses casos eram entendidos como atos de ovelhas que se afastaram do rebanho e que jamais poderiam manchar uma instituição milenar.
Nesse momento desencadeia-se em todo o mundo onda de protestos contra grande número de casos de pedofilia praticados por padres. A Igreja se encolhe, o Vaticano vê-se obrigado a se pronunciar sobre temas delicados, acusado que é de ter jogado para baixo do tapete casos vergonhosos e que exigiriam ação pronta e firme. Um prelado da Igreja discursa na presença do próprio Papa e incompreensivelmente compara as acusações que se fazem à Igreja às perseguições do nazismo. Pouco depois é obrigado a retratar-se: não é essa a Igreja que conhecemos.
A situação alcança o patamar em que o Vaticano finalmente apressa-se em afirmar que casos de pedofilia praticados por padres devem ser julgados pela Justiça comum.
E agora? Como fica a fé no meio dessa confusão? Difícil responder por que o que está em jogo é a credibilidade dos homens que atualmente dirigem a Igreja. Não se pode negar que a essa altura a figura de Bento XVI não conte com o prestígio – o enorme prestígio e credibilidade – de seu antecessor, o Papa João Paulo II.
Prognósticos? Ah, vai passar. Errado, absurdo, intolerável, mas vai passar e é fácil entender por que. Existem instituições que partem da premissa de que fatos momentâneos não interferem em algo que existe há muito tempo. Aprendi isso com o Exército. Não importa à alma militar que nesse ou naquele momento da História a corporação tenha sido afrontada por fatos que a desmerecessem. Derrotas não passam de abalos circunstanciais. Passa o tempo, novos homens revigoram a corporação e perdura a idéia de unidade que abrange o “desde sempre” que garante o orgulho de pertencer à instituição. Trata-se do amor e respeito à farda que une os homens que a vestiram em todas as épocas.
A Igreja foi perseguida desde os primeiros tempos, sua história é permeada pelo sacrifício de mártires que edificaram templo cujas bases nada têm de pés de barro. A idéia é a de que a Igreja está a sofrer mais um grande ataque de forças que sempre se uniram para destruí-la. Assim, a Igreja passará por mais isso.
A Igreja sobreviverá, ainda que na atual crise alguns dos homens que a dirigem estejam errados e tenham menosprezado a enormidade dos crimes cometidos por membros da instituição.
Simples assim? Nem tanto, mas muito provável.