Em tempo de condecorações
D. Marisa Letícia Lula da Silva foi condecorada: recebeu, no último dia 13 de abril, a Grã Cruz da Ordem do Rio Branco, a mais alta condecoração da diplomacia brasileira. A condecoração da primeira-dama foi uma gentileza do vice-presidente da República, José de Alencar, num momento em que exercia temporariamente a presidência.
Também foi condecorada a esposa do chanceler Celso Amorim. Agora o presidente Lula e o chanceler Amorim devolveram a gentileza a José de Alencar, condecorando a esposa dele. As três mulheres receberão hoje, terça-feira, a cruz de quatro braços e oito pontas esmaltadas de branco, tendo no centro uma esfera armilar, em prata dourada, inscrita, num círculo de esmalte azul, a legenda “Ubique Patriae”.
Não se conhecem os serviços prestados à República pelas três senhoras, ora condecoradas. Não se nega a elas a dose de sacrifício inerente à vida pública de seus maridos a quem acompanham, tantas vezes abrindo mão de suas atividades familiares. No mais, certamente as três senhoras devem se enquadrar nos pré-requisitos exigidos para a homenagem com tal alta condecoração: segundo o Decreto nº 51.697, de 05 de fevereiro de 1963, a Ordem do Rio Branco tem “o fim de galardoar as pessoas físicas, jurídicas, corporações militares ou instituições civis, nacionais ou estrangeiras que, pelos seus serviços ou méritos excepcionais, se tenham tornado merecedores dessa distinção”.
Em fase final de governo, a cúpula governista troca gentilezas entre si, homenageando as esposas de altos mandatários. No mais, deve-se lembrar que a distribuição de títulos é coisa antiga no Brasil e muito do agrado dos brasileiros. Um dos instrumentos utilizados por D. Pedro II para manter a estabilidade do Segundo Império era a distribuição de títulos de nobreza. Com eles o imperador amarrava sólidas alianças e conquistava descontentes. É conhecido o fato de o imperador por vezes ressentir-se da fartura de distribuições de títulos concedidos a pessoas importantes, durante suas viagens pelo interior. Acresça-se a isso a verdadeira febre de patentes honoríficas concedidas após a Proclamação da República. Desse modo os membros do Governo Provisório foram “promovidos” a cargos elevados. O interessante é que até pessoas civis repentinamente foram promovidas ao generalato, sem que tivessem em seus currículos qualquer atividade anterior de natureza militar. Um decreto de 1890 distinguiu todo o Ministério com patentes honoríficas. Foi assim que civis como Campos Salles, Quintino Bocaiúva e outros foram honrados com o título de General de Brigada.
Enfim, taí um caso - o das condecorações - sobre o qual não se pode dizer “nunca antes na história deste país”. Talvez o mais certo seja afirmar: “o Brasil é assim”.
Que coisa!