I lost myself - O Radiohead em São Paulo
Se você não conhecesse o Radiohead e imaginasse que eles seriam uma banda de pop comum, então ficaria estarrecido ao assistir ao show deles ontem, em São Paulo. Nada do ritmo comum do pop com refrões, estrofes etc. O que se passa no palco e leva ao delírio a multidão é um espetáculo com profusão de signos, alguns deles bem definidos, outros gerados ao sabor da ocasião e nem sempre com significados claros.
Começa pelo próprio cenário: um arranjo de tubos luminosos cilíndricos que mudam de cor e variam em comprimento, abertos a várias leituras, uma delas a de imensos tubos de órgãos fantásticos sugerindo os pináculos das catedrais góticas onde reverberam os sons. Dessas alturas e guiados pelo brilho intenso das luzes, os olhos dos espectadores são levados para o palco, situado bem abaixo, onde os músicos - pequenos demais ante a grandiosidade do cenário - gravitam num mundo esfumaçado e multicolorido que lhes rouba muito do que têm de humano. É dentro dele que as guitarras conferem textura ao som, quase sempre entrecortadas por vibrações eletrônicas.
Real mesmo parece ser só o baterista, preso ao seu instrumento, cumprindo rotinas de solos que por vezes soam desencontrados, mas que se integram com os toques dos repiques eletrônicos propícios a realçar a dimensão do provocante cenário. E é no meio disso tudo que impera, absoluto, irrequieto, o vocalista Thom York, cujos falsetes avançam pelo abstrato, por vezes mais parecendo uma lamúria que se arrasta, levando consigo as almas do público.
O que se vê no palco é a figuração de um mundo despersonalizado, alienado, panacéia de gestos estranhos, por vezes metódicos e duramente contidos. Reina a proposital atmosfera de “outro mundo” para o qual os espectadores são chamados, seguindo com em uma procissão lamuriosa e por vezes bela, encantados pelos vocais disformes de York. É assim que as pessoas se perdem, foi assim que me perdi.