Os dinheiros para a Copa-14
Não é verdade que o povo brasileiro seja desligado, ou no mínimo desatento, como se proclama por aí. Prova-o a pesquisa do Datafolha segundo a qual 57% da população desaprovam o uso de dinheiro público para a reforma de estádios para a Copa de 2014.
A notícia chega em boa hora e confronta-se com certo ufanismo tresloucado que corre solto nos meios oficiais e não oficiais. De repente o Brasil está crescendo, deixando sua condição terceiro-mundista fato que gera sentimento de que aqui tudo se consegue, versão nova da famosa “terra em que tudo dá”.
A verdade é que a poderosa FIFA encosta o país na parede e está a exigir muito mais do que, por exemplo, cobrou da África do Sul. Nada serve, o país não está se preparando segundo os combinados, o atraso nos preparativos é grande, a ladainha é longa. Embora haja muito de verdade em tudo isso, o fato é que não escapa aos brasileiros a noção exata das urgências que temos, das prioridades para emprego do dinheiro público. Estão aí os problemas de segurança, do saneamento, da saúde, da educação e, embora sempre empurrada para debaixo do tapete e maquiada por estatísticas nem sempre confiáveis, a pobreza é uma realidade.
Isso não quer dizer que não devemos realizar a Copa do Mundo ou que os brasileiros não a mereçam. O que incomoda é o artificialismo, o ufanismo de autoridades pulando e chorando de alegria com a escolha do Brasil para sediar a Copa, atitudes essas que, pelo visto, foram embaladas mais pelo entusiasmo que por dados concretos. Veja-se nesse sentido o caso de São Paulo, estado mais rico da federação que corre o risco de não ter jogos da Copa porque não possui estádios que respondam às exigências da FIFA.
Todo mundo sabe que Copa do Mundo é um grande negócio, que leva e traz muito dinheiro. Há que se considerarem os possíveis lucros, a projeção do país pela realização do grande evento e outros fatores. Entretanto, ao se propor a candidatura do país, o mínimo que se esperava era a responsabilidade diante de realização de tal magnitude. Afinal, não se tem por aqui a infra-estrura necessária, a começar por aeroportos que deem conta do movimento que há de vir.
No fim, espera-se por algum milagre e atitudes de consenso. O que não dá é para mais uma vez apelar-se para o tal “jeitinho brasileiro” o qual certamente será acompanhado de prejuízos palpáveis.
A boa notícia é que, desta vez, a população está atenta.