O 7 de setembro
O jornal “Folha de São Paulo”, de ontem, trouxe em primeira página uma foto do quadro de Pedro Américo no qual o pintor retrata o momento em que D. Pedro I, espada erguida, proclama a independência do Brasil. Pedro I está lá, onde sempre esteve, montado no seu cavalo, cercado por outros cavaleiros, às margens do Ipiranga, eternizado no gesto que mudaria a história do país.
A cena é por demais conhecida e incorporada ao imaginário dos brasileiros que aprenderam e aprendem nas escolas o significado daquele momento. Entretanto, o jornal não reproduziu a foto para glorificar o momento e aqueles que dele participaram. Ao contrário, a foto veio acompanhada de setas e números com os quais se intencionou apontar erros na pintura de Pedro Américo, erros esses de natureza factual. São eles: no D. Pedro I não estaria montado no momento da proclamação porque sofria de uma desordem de natureza gástrica e intestinal; nem todos os presentes trajavam uniforme de gala como mostra o quadro; na ocasião as montarias que serviam a autoridades e soldados eram mulas e não cavalos; e, finalmente, o chamado “Grito” não aconteceu bem às margens do Ipiranga.
Os quisessem saber mais detalhes sobre o fato eram direcionados pelo jornal ao caderno “Folhateen”. A reportagem foi, portanto, direcionada o público infanto-juvenil o qual precisaria ser alertado sobre a verdade do momento em que o Brasil tornou-se independente de Portugal.
Sempre admirei o fato dos norte-americanos tratarem a história de seu país, em particular a independência em relação à Inglaterra, com muito orgulho. Faz parte da nacionalidade, do espírito cívico do povo, o respeito a um fato que mudou os destinos do país e contribuiu para a formação da grande potência que são os EUA. Fato diverso ocorre entre nós onde o exercício de desmistificação de valores pátrios parece ser uma diversão. Afinal, que nos importa se Pedro I estaria ou não sentado numa privada no momento em que tornou o Brasil independente de Portugal? Mulas e não cavalos, distância do Rio Ipiranga, uniformes dos soldados, no que tudo isso afeta um fato de grande importância para a história do país? E por que a ânsia de dizer aos jovens que as coisas não aconteceram do jeito que se conta, por que essa fome de verdade, de acerto de contas com o passado?
Não se trata de nacionalismo ingênuo ponderar sobre isso. É preciso parar com essa verdadeira mania de tomar as coisas pelo que elas têm de menor, desmistificando tudo, fazendo pensar que nessas plagas tudo é assim, que um estranho determinismo nos condena à eterna fanfarrice.
É muito provável que o quadro de Pedro Américo não retrate o momento da independência do Brasil tal como tenha realmente acontecido. Mas, não fosse a tela como é e a ser verdade tudo o que se diz o que deveria ter sido pintado? Prefiro pensar na importância da independência e no fato de que o quadro de Pedro Américo serve muito bem à nacionalidade brasileira.
Prezao Sr. Delzo
Creio que o texto a que se refere concorda com o que senhor diz. Note que no último parágrafo está escrito:
“É muito provável que o quadro de Pedro Américo não retrate o momento da independência do Brasil tal como tenha realmente acontecido. Mas, não fosse a tela como é e a ser verdade tudo o que se diz o que deveria ter sido pintado? Prefiro pensar na importância da independência e no fato de que o quadro de Pedro Américo serve muito bem à nacionalidade brasileira.”
Grato pela atenção
Ayrton Marcondes
Ayrton Marcondes
28, 28America/Recife setembro 28America/Recife 2010 às 9:11