Sentimento nordestino
Das muitas polarizações despertadas pela eleição em segundo turno para a presidência da República, uma é a divisão do Brasil em nação de pobres e ricos, entre nordeste e sudeste, norte e sul e assim por diante. Talvez o modo de ser e a origem do atual presidente da República contribuam para despertar esse tipo de cisão, afinal vive ele se referindo às elites, aos ricos e seus esportes e assim por diante. De todo modo e genericamente o nordeste tendeu a votar com o PT no primeiro turno, o mesmo acontecendo com o sudeste em relação ao PSDB.
Apesar de tudo isso seria demais falar em sentimento nordestino que representaria, talvez, um tipo de revanche de classes menos favorecidas que têm na imagem divulgada do presidente da República o seu maior representante?
Difícil generalizar, até porque o nordeste tem as suas conhecidas oligarquias que, décadas a fio, têm manipulado a opinião de um eleitorado de menor escolaridade. Entretanto, escrevo sobre isso por presenciar em região do nordeste esse sentimento de brasilidade diferente da outros brasileiros.
Ainda em São Paulo ouvi, no aeroporto, a longa conversa de dois nordestinos. Um deles, morando em São Paulo, o outro retornando ao Ceará, seu lugar de origem. Aquele que mora em São Paulo falava ao outro sobre os bairros da cidade onde residem personalidades oriundas do nordeste. Após citar que fulano está em Moema, sicrano nas mansões de Alphaville, etc. o homem concluiu: estamos espalhados na cidade, acho que em todos os bairros. Era como se um representante de outro povo desse a um conterrâneo a visão de uma invasão.
Outro fato que me levou a falar em sentimento nordestino foi notícia publicada no jornal “O Povo”, de Fortaleza, em sua edição de 08 de outubro. A matéria publicada na página 19 versava sobre a eleição de Tiririca e trazia o seguinte título:
- A “palhaçada” que virou assunto sério nas eleições de 2010.
No texto falava-se sobre a expressiva votação de Tiririca e a suspeita de ele não saber ler, nem escrever. A certa altura lia-se o seguinte:
- Especialistas ouvidos pelo O POVO descartam a hipótese de preconceito pelo fato de ele ser nordestino e defendem o cumprimento da lei – que garante o direito de os analfabetos votarem, mas os impede de serem votados.
Ora, convenhamos que a essa altura do campeonato a última coisa que se deveria ser considerada era o fato de que a suspeita de analfabetismo de Tiririca, figura pública e bem sucedida, fosse vinculada ao fato de ele ser nordestino. Entretanto, foi preciso uma pesquisa junto a especialistas para que fosse afastada a possibilidade da origem do novo deputado federal estar ligada a suspeita de analfabetismo.
O Brasil é muito grande e abriga um só povo. Urge acabar com certa visão de inferioridade para que a igualdade plena possa vigorar. Nenhum governo conseguirá isso por decreto: cabe à educação aparar arestas que conduzem a situações como a citada em relação a Tiririca.
É preciso acabar com os preconceitos regionais, caso ainda vigorem.