Intenção de voto
Muita gente se interessa em conhecer a intenção de voto de pessoas próximas. Vez ou outra alguém me pergunta, na boa, em quem pretendo votar no segundo turno para a presidência da República.
Não sei se por irritação, sempre vejo nessas perguntas inocentes intenção mais profunda, como se o meu voto fosse indicador do meu perfil de cidadão ou, ainda, de minhas inclinações ideológicas. No final das contas, caso seja assim, talvez o fato se explique pela polarização que, no momento, acontece nos meios políticos brasileiros.
O interessante é que, a bem da verdade, avaliar o eleitor pela intenção de voto não passa de grande bobagem. Seria preciso existir, por parte dos candidatos, diferenças ideológicas e programáticas muito claras para que o eleitor pudesse votar conscientemente, escolhendo aquele que de fato correspondesse aos seus anseios.
Infelizmente, isso não é o que se verifica no momento quando se assiste a uma verdadeira caça de votos, para isso os candidatos, em maior ou menor grau, comprometendo-se com ações talvez impossíveis caso sejam eleitos. Dentro desse quadro, não há posição ideológica que resista por parte dos candidatos e muito menos de parte dos eleitores. É assim que se passa a um estágio em que se vota mais pelo sentimento do que deveria ser. De fato, cabe ao eleitor a construção de um painel futuro imaginário no qual melhor se insira esse ou aquele candidato de sua preferência, em condições de realizar um bom governo.
É por ver as coisas desse modo que não respondo a perguntas sobre a minha intenção de voto. Não quero e não preciso ser taxado de isso ou aquilo, comprometido com tal e tal política, cego a esse ou aquele escândalo, conivente ou não com a corrupção e outros tantos que tais.
Portanto, não me perguntem mais. A minha confissão será feita apenas no dia da eleição, no momento em que digitar o número do candidato(a) na urna. Estarei a sós com a urna e então poderei expressar o meu contentamento ou descontentamento com o modo como as coisas têm sido feitas etc.
No mais, encareço a alguns fanáticos - que também são meus amigos e prezo tanto - que me desobriguem de uma declaração que, afinal, não serve a muita coisa e não se confundirá, como talvez pensem, com o meu perfil de cidadão.
Então, bons dias a todos esses curiosos de plantão, inclusive aqueles que são responsáveis pelas pesquisas de opinião.