Emburrados
Sabe aquele filho que, depois de receber uma bronca, fica num canto, calado e se recusa a comer? Então, esse aí é o cara quem chamamos de emburrado. Para tirá-lo dessa condição só uma nova bronca ou, simplesmente, ignorá-lo.
Mas, existe outro tipo de emburrado, gente que se queima com coisas ou medidas de que não gosta. Está acontecendo agora no Rio de Janeiro: segundo o Secretário de Segurança os traficantes estão praticando crimes como forma de reação à pacificação de favelas e transferência de presos. Estão emburrados: pronto. Tão emburrados que queimam carros, jogam granadas e atiram com armas de grande alcance.
Enquanto os bandidos estão de bico, a população vive o seu cotidiano de incertezas. O cidadão sai de casa de manhã e não sabe se volta. A insegurança é total, absurda, incontrolável. Existe um poder paralelo no Rio que se dá ao desfrute de ficar emburrado e sair por aí cometendo crimes como forma de retaliação.
Meus camaradas, o nome do que está acontecendo no Rio é guerra. Podem colocar panos quentes, dizer que se está conseguindo muito e que o esforço para conter a criminalidade é enorme. Tudo bem. Mas a guerra continua e o Rio, com toda a sua beleza, vai ficando mais para Afeganistão que Brasil.
Nós que amamos tanto o Rio sofremos com isso. Sofre-se de longe pela boa gente carioca que se vê no meio dessa balbúrdia. Crimes terríveis acontecem em nome da supremacia de facções ligadas ao tráfico. Agora, nova componente acrescenta-se a essa triste história: o crime dos emburrados. Pode?
Não sei não, mas a violência explícita perdura há tanto no Rio que é difícil acreditar que um dia a cidade retorne à paz e normalidade. Mas, não custa torcer.