O meu pinheiro egoísta at Blog Ayrton Marcondes

O meu pinheiro egoísta

deixe aqui o seu comentário

Há 30 anos encontrei um pinheirinho numa estrada da Serra da Mantiqueira. Era de tal modo pequeno que me condoí dele e levei-o para casa. Depois de colocá-lo num vaso por alguns dias e adubá-lo achei que ele já estaria forte o suficiente para ser transferido. Foi nessa ocasião que eu plantei o pinheiro em frente à minha casa.

A partir daí o pinheiro cresceu e como. Plantado numa encosta de morro ele ganhou corpo e, em alguns anos, alinhou-se com outros pinheiros, seus descendentes. Grande e robusto, crescendo numa encosta, o pinheiro cercou-se de cuidados relativos à sua segurança: ano após ano desenvolveu raízes poderosas, algumas visíveis sobre o solo, uma delas tão longa que veio rachar o piso de concreto da área da frente da casa.

Sempre admirei esse pinheiro a quem me afeiçoei sobremaneira me orgulhando de sua majestade e força. Atualmente ele é uma árvore altíssima que se exibe com suas poderosas raízes as quais sempre me impressionam. Entretanto, justamente hoje, a minha opinião sobre o meu pinheiro foi abalada por uma publicação da revista científica “The American Naturalista”, divulgada pelo jornal New York Times. Segundo os cientistas autores do trabalho publicado pela revista as árvores criam mais raízes do que realmente necessitam apenas para dificultar o crescimento de outras árvores. Segundo Ray Dybzinski, da Universidade de Princeton, raízes desnecessárias funcionam como verdadeiras armas que evitam o crescimento de outras árvores. Trata-se, portanto, de uma competição em relação aos recursos disponíveis, processo darwiniano de sobrevivência do mais apto. Em outras palavras, as árvores não estão isentas do velho egoísmo que tanto prejudica as relações humanas.

Então, o meu pinheiro? Pois é. Aquela raiz que estourou o piso da área não está ali apenas por necessidade de sustentação e crescimento. Sem qualquer eufemismo, a raiz bem que pode ser considerada uma agressão desnecessária que recebi de alguém que só sobreviveu graças a mim.

Mas, não importa. O que vale é que o pinheiro está lá, grande e forte, ligado a mim tanto como eu a ele. Nessa vida em que nem tudo floresce é com muito orgulho que me apresento como o cara que plantou aquele soberbo pinheiro. Dia desses vou me aproximar dele para uma dura em relação à raiz desnecessária que me causou prejuízos. Mas, não será uma reprimenda tão dura assim, afinal todo mundo sabe como funcionam essas conversas entre pais e filhos.

Escrito por Ayrton Marcondes

12 janeiro, 2011 às 2:18 pm

deixe aqui o seu comentário



Deixe uma resposta