O ocaso dos ídolos do futebol at Blog Ayrton Marcondes

O ocaso dos ídolos do futebol

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Na mercearia dois homens conversam. Assunto: o jogador Neymar. O papo gira sobre o quê o rapaz é capaz de fazer com a bola. Um dos homens se declara impressionado com as recentes atuações de Neymar nos jogos da seleção sub20. Acrescenta que nada do que ele faz é resultado de treino, aplicação, determinação ou o que seja: tudo isso é importante, mas o que conta mesmo é o talento.

- O cara nasce assim e pronto. Isso existe em todas as profissões. Há médicos que simplesmente curam; outros sabem muito, mas na hora do vamos ver o resultado não é o mesmo. Também acontece aos advogados e assim por diante. Quanto ao Neymar, em certos momentos ele faz coisas que só vi o Pelé fazer.

É quando o outro homem faz um aparte:

- Bom, Pelé não, Pelé é incomparável. Sofri muito marcando o Pelé quando eu jogava no Corinthians. Ele era demais, completamente imprevisível. Gênio.

A conversa se alonga e agora o assunto é Pelé e suas maravilhas com a bola. Não conheço os dois homens e quase me animo a perguntar quem é o ex-jogador que marcou Pelé. Não chego a fazê-lo porque entra um rapaz que se dirige ao ex-jogador, zoando com ele porque está usando uma camiseta com o distintivo do Corinthians. São pessoas que se conhecem e a conversa segue descontraída.

Pois é. Pelé está fora dos gramados há muito tempo e sua fama só faz crescer. Neymar começa e declara seu espanto ao saber que é famoso no Perú. O grande artífice Romário, gerente geral dos micro espaços da área adversária, conhecedor profundo dos milímetros que levam ao gol, treme ao fazer seu primeiro discurso na Câmara Federal. Enquanto isso se espera para hoje o pronunciamento de Ronaldo no qual ele selará o fim de sua carreira.

Há muito de glória e tristeza na despedida de Ronaldo. Os noticiários da manhã ocuparam-se da trajetória do grande finalizador, não sem justiça chamado de “Fenômeno”. Artilheiro nato, dotado de grande habilidade e visão de jogo, Ronaldo deixa no futebol lacuna difícil de ser preenchida. Entretanto, estava mais que na hora de parar dadas as suas atuais condições físicas.

Imagino o quanto seja difícil o apagar dos holofotes para os ídolos do esporte. A glória, como a vida, passa depressa. Infelizmente Ronaldo não sai de cena com o respeito e o reconhecimento de que é merecedor. Ao atuar fora de condições físicas, vinha ele arrastando a sua própria legenda. Os últimos acontecimentos, envolvendo cobranças da torcida que reclama empenho e desempenho, não estão à altura do ídolo, daí o acerto da despedida.

Há quem não se preocupe com isso, mas a muitos importa o modo como serão lembrados. No caso de grandes ídolos do esporte é preciso cuidado com os últimos momentos da carreira para que não obscureçam feitos do passado. Mas, não creio que o último Ronaldo possa lançar sombras sobre o grande Ronaldo. Nós que amamos futebol sempre nos lembraremos dele em seus melhores momentos quando, participando de lances decisivos, deixava em campo a sua marca de jogador fora de série.

Vida longa ao grande Ronaldo.

Escrito por Ayrton Marcondes

14 fevereiro, 2011 às 11:04 am

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