Casos de Febre Maculosa Brasileira em Campinas
A febre maculosa brasileira é uma doença febril aguda que, em suas formas mais graves pode levar ao óbito. É causada pela bactéria Rickettsia rickettsii e, geralmente, adquirida pela picada de carrapatos infectados por esse parasita. Não existe transmissão direta de uma pessoa a outra: os carrapatos adquirem o parasita de animais como o cão, quando infectado, e o transfere aos seres humanos ao picá-los.
Os sintomas da febre maculosa são variáveis. Após um início abrupto com febre, mal estar, vômitos, dor de cabeça e outros sintomas inespecíficos, surgem machas róseas (máculas) na pele, principalmente nas palmas das mãos e plantas dos pés. Nos casos mais graves a doença evolui com aparecimento de tosse, inchaço dos membros inferiores, aumento dos tamanhos do fígado e do baço e sangramentos. Caso os doentes não sejam tratados precocemente o quadro se agrava com risco de morte.
Dada a forma de transmissão através carrapatos, casos de febre maculosa são mais comuns em áreas rurais e urbanas onde é possível o contato com esses animais. Caso recente e bastante incomum aconteceu na cidade de Campinas , no conhecido Lago do Café, junto ao Parque do Taquaral. Entre 2001 e 2010 três funcionários do parque morreram de febre maculosa; um quarto funcionário adquiriu a doença, mas sobreviveu.
No Lago do Café atualmente vivem 20 capivaras que estão para ser sacrificadas com autorização do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e concordância da Sucen (Superintendência do Controle de Epidemias do Estado de São Paulo). A razão é que cada capivara carrega um grande número de carrapatos, servindo como fonte de infecção a seres humanos. Segundo informações da Vigilância Epidemiológica de Campinas, dez pessoas adquiriram febre maculosa na cidade durante o ano de 2010.
Em 2010 o Ministério da Saúde distribuiu a 8ª edição revista do Guia de Bolso intitulado “Doenças infecciosas e Parasitárias”. Trata-se de um manual prático de grande utilidade para os profissionais da área de saúde. Curiosamente, no que diz respeito à febre maculosa o manual afirma:
“Acredita-se que a capivara (Hydrochaeris hydrochaeris), também pode estar envolvida neste ciclo, mas não existem estudos que comprovem ser esse roedor um reservatório silvestre de Rickettsias”.
Os casos de febre maculosa ocorridos em Campinas, com destaque para a participação das capivaras enquanto reservatórios naturais, sugerem alteração no texto do Guia de Bolso do Ministério da Saúde.
É difícil entender a lógica aplicada pela Prefeitura de Campinas neste caso.
Inicialmente seria necessário admitir que as Capivaras estão realmente contaminadas com a bactéria da Febre Maculosa, isso porque a Prefeitura até o momento não apresentou nenhum laudo de laboratório comprovando este fato. Depois é necessário assumir que o Lago do Café está infestado por Carrapatos. Aqui pode-se dispensar a necessidade de comprovação por parte da Prefeitura, já que qualquer morador de Campinas sabe que a cidade está infestada por Carrapatos em todos os bairros da cidade. E se alguma comprovação for necessária, basta avaliar o volume de venda mensal de carrapaticidas na cidade. Qualquer pessoa que tenha cachorro em Campinas precisa comprar regularmente produtos para combater os carrapatos. Isto é um fato.
A Prefeitura de Campinas argumenta que precisa exterminar as Capivaras para resolver o problema de contaminação por Febre Maculosa no Lago do Café. Aqui fica difícil de entender a lógica aplicada pela autoridade pública municipal nesta decisão.
Isso quer dizer que para resolver o problema da contaminação da Febre Maculosa a prefeitura quer matar as treze Capivaras do Lago do Café? E os milhões, talvez bilhões, de Carrapatos que infestam a cidade? O que vai ser feito em relação a isso?
O que precisa ser combatido é o vetor da doença, neste caso, o Carrapato e não as Capivaras. As Capivaras, são tão vítimas do Carrapato quanto qualquer um de nós.
Em termos equivalentes, mas guardadas as proporções, o que a Prefeitura de Campinas quer fazer com as Capivaras do Lago do Café seria o mesmo que matar as pessoas contaminadas com Dengue para combater a proliferação da doença em vez de matar o mosquito. Qual é a lógica disso?
O problema da Febre Maculosa em Campinas precisa ser resolvido combatendo-se a proliferação do Carrapato, e isto pode ser feito com a aplicação de inseticidas e, ou, controle biológico. Existe tecnologia para isso e outras cidades da região foram bem sucedidas no controle do Carrapato.
Além disso a bactéria causadora da febre maculosa pode ser eliminada com a aplicação de antibióticos. As ONGs de Proteção da Vida Animal de Campinas ofereceram realocar as Capivaras para um sítio onde receberiam o tratamento adequado, mas a Prefeitura de Campinas sequer concordou em receber os representantes das ONGs para discutir esta proposta.
Ana Lucia Tibiriçá
17, 17America/Recife março 17America/Recife 2011 às 14:05