Elizabeth Taylor
Não me lembro de quando assisti “Gata em Teto De Zinco Quente” de todo modo filme inesquecível. Filme de atores, sem truques, baseado na peça de Tenessee Willians, com atuações maravilhosas. O ex-jogador bêbado Brick (Paul Newman) não perdoa a mulher com quem é casado, Maggie (Elizabeth Taylor), por um incidente com seu amigo, também jogador, Skipper. O casal faz parte de uma família cujo patriarca é Harvey (Burt Ives), homem rico e pai de Brick seu filho preferido. O outro filho é Cooper (Jack Carson), casado, com filhos, que faz de tudo para agradar o pai. Toda a trama se desenvolve na noite em que se comemora o aniversário de Harvey, o “Big Daddy”, que tem câncer e está para morrer.
A primeira aparição de Maggie acontece durante os preparativos da festa que será realizada para o Big Daddy. Ele voltará para casa e a ideia é comemorar o seu aniversário com a presença da família. Maggie chega dirigindo um carro azul do qual desce apressada para gritar com a sobrinha que está com as mãos enfiadas num balde de sorvtee. É nesse momento que o mundo literalmente vira de ponta cabeça para o espectador: a pessoa que desce do carro e corrige os modos da criança não é uma mulher qualquer: ela é Elizabeth Taylor, então aos 30 anos de idade, no esplendor de toda a sua beleza e enorme capacidade de interpretação. É uma mulher invulgar, ícone de sua época e uma das últimas grandes e verdadeiras estrelas de Hollywood.
Não há que se comentar aqui o filme “Gata em Teto de Zinco Quente”, de resto um “cult movie” cuja grandeza é de fazer inveja a montanhas de produções recentes adubadas com os recursos tecnológicos atualmente disponíveis. O que importa dizer é que o efeito especial do filme, o inimitável e inigualável efeito especial de muitos filmes, morreu hoje: Elizabeth Taylor faleceu deixando atrás de si uma grande e inimitável legenda, além de admiradores em todo o mundo.
Existem hoje em dia grandes atrizes, celebridades, pessoas que tornam públicas suas vidas pessoais, gente que consome e é consumida pela mídia. Elizabeth Taylor esteve à frente do grupo seleto de pessoas que atualmente domina a cena cinematográfica por ser tudo isso e muito mais a um só tempo. A cada casamento dela o mundo via-se obrigado a acompanhá-la em sua nova aventura dado que era simplesmente impossível ignorá-la. Ao tempo de seu relacionamento e casamento com Richard Burton ouviram-se os mais variados tipos de comentários alguns deles de cunho machista dado que uma fêmea tão perfeita teria procurado um mau ator, mas sujeito forte e assim por diante.
Raras pessoas nesse mundo nascem em sintonia com estrelas. Com o passar do tempo a sintonia torna-se tão forte, tão intensa, que elas próprias transformam-se em estrelas. Como estrelas elas vivem e morrem, diz-se até que na morte retornam ao firmamento, de modo que não seria inesperado se no momento em que Elizabeth Taylor morre uma nova estrela apareça nos céu.
Aconteceu a Elizabeth Taylor, acontece a raríssimos seres humanos. Para nós, mortais comuns e adoradores confessos, restam os filmes, as cenas eternas gravadas pela estrela enquanto esteve entre nós. Quanto a mim fico com a “Gata” no momento em que chega dirigindo o carro e desce para chamar a atenção da menina. Não a deixo chegar ao final da cena: paro o filme enquanto ela segue de corpo inteiro na direção do espectador e a deixo ali, braço estendido, dedo em riste, com sua esfuziante beleza e naturalidade, atuando eternamente.