Agressões ao São Paulo FC
Futebol é paixão. Entretanto, nem tudo se justifica sob a desculpa de paixão. Paixões podem transformar-se em ódio, transbordando em atitudes pueris e inconsequentes. As agressões de dirigentes corintianos ao São Paulo Futebol Clube passaram do limite, são irresponsáveis e podem ter consequências terríveis. Dirigentes de grande visibilidade pública, atrás dos quais existe uma enorme massa de torcedores, não podem alimentar rivalidades extracampo, fomentando possíveis retaliações de ambos os lados. Estivéssemos numa sociedade perfeita, absolutamente controlada e livre de violências, os pronunciamentos dos dirigentes corintianos poderiam até ser tomados como piadas de pessoas menos preparadas para os cargos que ocupam. Não é o caso do Brasil, infelizmente, Brasil violento que os dirigentes parecem desconhecer por completo.
A coisa chegou a um ponto em que o próprio presidente do Corinthians declarou-se culpado, concordando que as provocações passaram do limite. Infelizmente esse tardio reconhecimento não surtiu efeito nos escalões inferiores da administração corintiana. Ontem, durante evento de marketing no Corinthians, um dirigente do clube chamou o Morumbi de “panetone” e os são-paulinos de “torcida de final”. Sobre o Morumbi o dirigente também disse que o “estádio é uma banheira de ofurô ou bolo ou panetone, que depende de ter fruta ou não”. As agressões do dirigente, lamentavelmente, estenderam-se a outros clubes.
É pena. São-paulinos e corintianos são antigos rivais e sempre foi uma delícia alimentar a rivalidade com coisas do futebol. Os grandes clássicos do passado estão vivos nas memórias dos torcedores das duas equipes. O Corinthians campeão do quarto centenário, o São Paulo campeão de 1957 em memorável jogo contra o Corinthians, nomes como os de Zizinho, Canhoteiro, Luisinho – o pequeno polegar corintiano – e inúmeros outros fazem parte de uma galeria maravilhosa para aqueles que amam o verdadeiro futebol.
Seria bom se os atuais dirigentes dos grandes clubes dessem uma olhada no que veio antes deles, nas glórias de suas equipes em várias épocas. Talvez assim agindo repensassem em coisas como respeito e responsabilidade. Não se pode jogar a tradição às feras e assistir sem culpa o embate de novos gladiadores movidos por discursos intolerantes.