Livros e leitura
Não tenho assim tantos livros em casa, mas digamos que lá existem um bocado deles. Outro dia recebi a visita de um rapaz que parou diante das estantes e, a tantas, perguntou:
- Você realmente leu todos esses livros?
Na hora lembrei-me daqueles livros de capa dura, em geral enciclopédias de vários volumes, que eram colocados na sala de estar para emprestar um aspecto cultural às famílias. Muitos desses livros terão passado suas existências intocados, indo parar nalgum sebo após a morte de seus proprietários. Mais escabrosas eram certas molduras de capas que serviam para imitar livros, adorno que conferia ares intelectuais aos ambientes. Escrevi as frases anteriores no particípio por acreditar que tais coisas entraram em desuso, afinal quem é que está preocupado em saber se as pessoas de seu convívio são cultas ou não?
De todo modo não há lugar que mais me incomode que escritórios de advogados. Esses locais parecem arvorar-se em reserva de inteligência da humanidade porque é comum que ,nas paredes, existam estantes enormes cheias de livros de capa dura. Quando sou obrigado a ir a um desses escritórios vejo-me na situação do rapaz curioso quanto ao número de livros que li porque tenho vontade de perguntar ao advogado se de fato ele leu aquela livraria toda.
Bem, eu li os livros que estão lá em casa ou, pelo menos, penso que li. Mas, não foi esse aspecto que mais me importunou na pergunta do rapaz. O que me constrangeu foi o tom da pergunta, a remetida que ele fez do prazer de ler à esfera de sacrifícios enormes.
Segundo se diz o mercado de livros no Brasil vai bem e novas livrarias têm sido inauguradas. Contrasta com isso o fato dos jovens simplesmente não lerem nada, a maioria ficando restrita às leituras obrigatórias em escolas. Vem daí o florescimento de gerações cada vez mais afastadas de hábitos culturais, incapazes de falar corretamente e muito menos de escrever. Numa época em que a informação nos chega aos borbotões, os acontecimentos importantes correm o risco de não serem compreendidos devido à carência de conhecimento e poder de análise das pessoas. Esse problema se agrava na medida em que pessoas com capacidade de entendimento prejudicada são chamadas ao exercício das suas cidadanias, por ocasião de eleições, por exemplo.
Quase não seria preciso dizer que por detrás dessas observações situam-se todos os comemorativos ligados aos problemas vigentes na área de educação no país. No mais, não custa gritar que livros são grandes companheiros, ganham vida quando os retiramos da estante e começamos a ler. Talvez se repetirmos isso todos os dias, se uma pessoa falar bem de livros a outra, consigamos despertar interesse maior pela leitura e construir uma sociedade mais humana e melhor.