Aposentadoria para campeões mundiais de futebol
Troca de farpas entre os ex-jogadores de futebol Carlos Alberto e Tostão a respeito da aposentadoria para campeões mundiais de futebol a ser paga pelo Estado. Tostão declara ser contra e desde já se recusa a receber o pagamento caso venha a ser aprovado. Baseia-se ele no fato de que além de não ser responsabilidade do Estado pagar o benefício este teria que ser estendido a campeões de outras categorias esportivas que não o futebol. Carlos Alberto lembra que jogadores que deram grandes alegrias ao país e hoje precisam não podem ser abandonados. Por essa razão desanca palavrório contra Tostão, a seu ver médico e comentarista esportivo, que desdenha por não precisar de ajuda.
Na verdade não há porque o contribuinte arcar com mais essa despesa do Estado, seja ela de quanto for – Carlos Alberto relaciona apenas 35 pessoas que precisam do auxílio. Entretanto, o problema é complexo. Destarte a discussão sobre a concessão ou não de privilégios o fato é que a carreira de jogador de futebol é curta e boa parte, senão a grande maioria, dos jogadores simplesmente parece ignorar esse limite. De modo que, frequentemente, ouvimos histórias sobre antigos ídolos que hoje vivem na quase na miséria - recentemente um jogador, ídolo da torcida são-paulina, declarou viver de favor em casa de um amigo, confessando ter dissipado tudo o que ganhou com carros e mulheres. Acrescente-se que ex-jogadores das seleções de 58, 62 e 70 atuaram numa época em que não se praticavam os salários delirantes pagos aos atletas de destaque hoje em dia. Além disso, não há como negar que a convivência com o estrelato em idade muito precoce gera em pessoas quase sempre mal preparadas, como os jogadores de futebol, ilusões de glória e facilidades eternas. Daí que poucos deles acabam tendo vida condigna após deixarem um esporte raramente praticado após os 35 anos de idade em âmbito profissional.
Mas, o que tem a ver o contribuinte com tudo isso? Que temos a ver com a falta de preparo e a imprevidência de pessoas que se tornaram célebres e não tiraram proveito duradouro da celebridade? Bem, não dá para negar que nada temos a ver com isso. Entretanto, somos um povo dos trópicos quentes e a frieza não faz parte do nosso temperamento. Daí que é sempre doloroso ouvir a respeito de pessoas que admiramos tanto e que no momento, envelhecidas, passam por dificuldades. Deram-nos elas alegrias e quantas. Aquela seleção de 58, por exemplo, que redenção teve a conquista dela em relação à nossa noção de terceiro-mundismo irreversível. Que afirmação de força, de sentimento nacional, de crédito a nós mesmos nos trouxe a conquista na Suécia.
Por tudo isso a razão parece não estar com Carlos Alberto, nem com Tostão. Dado que não há que se ignorar o destino de personalidades que deram glória ao país no esporte a solução talvez esteja na regulamentação de algum tipo de previdência para atender a casos como os acima mencionados. O modus operandi do processo possivelmente sairá de sugestões de especialistas, envolvendo mecanismos que se julguem apropriados. Se assim for não estaremos diante de benefícios exclusivos a um grupo de pessoas que, no final das contas, são brasileiros como tantos outros que lutam diariamente pela sobrevivência.