Um macaco tarado
Há um canal de TV cuja programação é voltada para a vida animal. São exibidas reportagens sobre vários bichos, mas a maioria é sobre cobras e macacos. As pessoas que realizam documentários sobre cobras parecem se esforçar por mostrar a sua fascinação por esses animais. Najas e outras espécies altamente venenosas são tratadas como seres normais dentro de seus hábitats, o que de fato são. O que não são, nem um pouco, é sociáveis daí que dá nos nervos ver aqueles caras pegando cobras perigosíssimas como quem passa a mão numa tolha felpuda.
Verdade. Semana passada assisti a um documentário no qual uma mulher saiu com sua equipe em busca de uma espécie de cobra não venenosa. Era de se ver o modo como ela se aproximou de uma cobra bem grande e, ao tentar pegá-la, levou uma picada. O sangue correu solto pela mão dela e, evidentemente doeu bastante. Entretanto a cena foi de sorrisos porque era a primeira vez dela, primeira picada não se esquece. Mas, isso não é nada. Legal é andar descalço em pântanos com água na altura dos joelhos, procurando cobras. Tem gente que faz isso, tudo filmado.
Quanto aos macacos o enfoque é sobre o modo como vivem, relações comunitárias etc. São muitas as espécies de macacos apresentadas, cada uma delas com hábitos peculiares. Os cinegrafistas passam horas esperando para flagrar momentos de relacionamento entre macacos que variam de cuidados com a prole, disputas por fêmeas a práticas sexuais desses animais. Quanto ao sexo não sei dizer ao certo, mas parece-me que pelo menos algumas espécies de macacos são dadas a grande libertinagem, fazendo do sexo uma prática constante. Mas, nem por isso ouvi, até hoje, falar em macacos tarados.
Quem falou sobre macaco tarado não foi nenhum estudioso da vida animal e nem se referia a animais. A expressão “macaco tarado” saiu da boca de uma jornalista francesa, Tristane Banon, referindo-se ao ex-diretor do FMI, Dominique Strauss-Kahn. O mais interessante é que agora a história se complicou porque Anne Mansouret, mãe de Tristane Banon, confessou ter mantido relações sexuais com Strauss-Kahn, consensualmente, embora ele tenha agido com a brutalidade de um soldado. Anne classificou Strauss-Kahn como um predador, cafajeste obsceno e praticante de luxúria sexual. As relações entre Anne e Strauss-Kahn teriam ocorrido três anos antes da tentativa de estrupo de Tristane pelo mesmo Strauss-Kahn.
Foi assim que os macacos entraram nessa história de estrupo que já toma ares de piada de mau gosto. A fama de garanhão impulsivo e incontrolável de Strauss-Kahn cresce e não é impossível que outras mulheres venham a público para acrescentar novos episódios picantes à biografia desse homem que corre o risco de vir a ser o presidente da França.
Em meio a essa enorme confusão quem lucra são advogados que cobram honorários altíssimos e a mídia que espalha no mundo notícias sobre o ex-chefão do FMI. Quanto aos macacos, embora agredidos e taxados como tarados não consta que algum advogado tenha se interessado em defendê-los ou pedido indenização por danos morais.