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Quando os anjos dizem amém

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Quando menino minha mãe me repreendia se eu dizia algo de que poderia advir alguma má sorte ou catástrofe. A palavra “azar” meio que era proibida. Tudo funcionava segundo aquele lema de “não tomar o seu santo nome em vão”, coisa associada ao pecado.

 Se eu dizia algo como “quero que se arrebente”, pronto, aí vinha a reprimenda dada a possibilidade de os anjos dizerem amém. Coisas para as quais os anjos dizem amém simplesmente acontecem, essa a regra. Se eu digo “melhor é morrer” o problema está na aquiescência dos anjos.  Se não estiverem ocupados, distraídos, jogando cartas, por exemplo, e ouvirem corre-se o risco de dizerem amém. Daí você morre.

De modo que não há meio de negociar com a vontade dos anjos – há quem diga que a única exceção seria o anjo da guarda. Dependemos do acaso de estarem por perto ou de nossos impropérios atravessarem estâncias infinitas e chegarem até eles. Existirão, sim, anjos judiciosos que talvez levem em conta nossos estádios emocionais e nos desculpem por algum desafogo expresso em palavras. Também é possível que existam anjos preguiçosos que deixarão para depois a merecida punição e terminarão por se esquecer dela. Entretanto, se o mundo de lá não passar de réplica deste que em que vivemos – com apregoam algumas religiões – também existirão anjos alforriados em juízes, loucos por aplicar sentenças até mesmo sem ouvir instâncias superiores das quais se libertaram. Esses seriam os piores, aqueles que são responsáveis pela maior parte das tragédias que acontecem nesse mundo.

Do que sempre discordei de minha mãe. O fato é que ao meu entendimento sempre pareceu muito estranho que anjos digam amém apenas para que coisas ruins aconteçam. Se eu digo, por exemplo, “vou ganhar na loteria”, realmente torna-se alarmante o silêncio dos anjos. Para coisas assim, que modificariam para muito melhor a vida da maioria das pessoas, parece que os anjos são surdos. Tá bom que as coisas sobrenaturais sejam inexplicáveis, que a lógica que conhecemos não se aplique em instâncias não humanas, mas, cá entre nós, não é estranho?

Pois semanas atrás aconteceu de uma mulher ganhar em três loterias diferentes. Esse fato incomum por si só desperta muita curiosidade. Como pode uma determinada pessoa vir a ser agraciada com tamanha sorte? Teria ela feito algum pacto? Seria ela algum tipo de delfim do agrado de uma casta de anjos? Por que milhares de pessoas apostam diariamente em jogos de azar e poucos são premiados? Ou o melhor é aceitar a lógica de probabilidades que conhecemos, permanecendo circunscritos aos fatos do nosso mundo, sem admitir interferências externas, inclusive a de anjos?

Não sei. Ultimamente cheguei à conclusão de que não custa nada apostar no improvável em termos de sorte. Também me parece que a oposição obstinada à possível participação dos anjos em várias circunstâncias da vida não leva a nada. Daí que passei a repetir, diariamente, que vou ganhar na loteria. De repente os anjos ouvem e dizem amém…

Ia terminar dizendo que há mais coisas entre o céu e a terra… mas o dia não está para clichês. Agora pouco a cidade foi encoberta por densa neblina e não faz muito começou a soprar um vento forte, vindo do mar. O vento faz as janelas baterem, produzindo sons estranhos, talvez sussurros ininteligíveis. Seriam respostas de anjos a um incrédulo que diz bobagens sobre eles?

Escrito por Ayrton Marcondes

9 agosto, 2011 às 8:29 am

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