Horror sem fim
A cena se passa num hospital. Soldados encontram os corredores vazios, sem médicos e enfermeiros. Quando entram nos quartos deparam-se com cadáveres sobre os leitos, muitos deles em avançado estado de putrefação. Os cadáveres são de soldados líbios e mercenários que combatiam nas tropas de Gaddafi. Feridos, estavam internados no hospital quando os revoltosos entraram em choque com as tropas leais ao governo, em Trípoli. Em meio aos combates o pessoal de atendimento do hospital debandou, deixando os feridos nos leitos. Abandonados, a morte sobreveio nos dias seguintes, resultando nas terríveis cenas encontradas pelos revoltosos.
Não é um filme de horror: trata-se de realidade inimaginável em que feridos impossibilitados de se mover observam a morte de outros e aguardam, por um período longo e terrível, as próprias mortes. Talvez nem mesmo Stephen King conseguisse engendrar quadro mais dramático e desolador.
Mas, a guerra continua. Os revoltosos avançam e invadem os domínios particulares de Gaddafi. Aqui um avião de alto luxo que servia ao uso do ditador; acolá os aposentos luxuosos onde ele vivia. Uma foto mostra rebeldes sentados em poltronas ou banhando-se na piscina da residência do ditador. Nas mãos de um homem, mal vestido e em pé, a inseparável metralhadora. No chão, espalhados, restos e escombros de uma era que finalmente se encerra.
O que será da Líbia a partir de agora? Especialistas veem com bons olhos a deposição do ditador e um novo governo que possa ser democrático. O risco de luta pelo poder entre os insurgentes existe, sendo possível a situação descambar para a guerra civil. Há sofrimento à frente a esperar pelo povo líbio. Enquanto isso o mundo assiste a uma distância prudente a mais esse espetáculo pontilhado por sonhos democráticos e muita barbárie.
A guerra é um vale-tudo no qual a engenhosidade de ações inumanas jamais se esgota. Há sempre algo de novo e absurdo a ser experimentando num território onde a bestialidade humana torna-se desenfreada. A Líbia passa neste momento pelo transe da indefinição que pode gerar mais massacres, afinal guerra é guerra e na vigência dela a vida pouco ou nada vale.