Depois da farra
O Brasil se parece com aquele sujeito que se embriaga, gasta mais do que pode e depois, curtindo a ressaca do dia seguinte, pondera que vai ser preciso arranjar mais dinheiro para pagar as contas.
De que o setor de saúde do país vai muito mal todo mundo sabe. O descalabro do atendimento de alguns casos faz a delícia dos programas policiais na televisão. Sob o pretexto de informar e dar voz à população carente, repórteres parasitam pessoas simples em momentos de puro desespero, arrancando delas declarações agudizadas por situações de dor e sofrimento. O mote é o dever de informar, mostrar a sociedade como ela é, abrir as entranhas do tecido social para delas extrair a verdade. Não se pode negar o impacto dessa classe de jornalismo sobre a população. Também é verdade que o acumulo de publicações sobre descalabros no setor de saúde movimenta a opinião e obriga o governo a s posicionar. Faca de dois gumes, portanto, mas que se serve de situação lamentável a precisar de atitudes firmes e muito bem definidas. Sendo óbvio que o problema não se resolve em curto prazo, por outro lado faz-se necessário sair do conhecido discurso de promessas, deixar de lado a retórica e agir.
Agora vem a presidente da República reconhecer publicamente a situação em que se encontra a saúde. Fala ela sobre a criação de novo imposto cujos recursos seriam destinados à área de saúde.
O bom do sistema republicano democrático é justamente certa falta de responsabilidade em relação a problemas que rolam de um governo para outro. Cada novo governo herda do que o precedeu situações que ao longo dos anos se deterioram cada vez mais, todas elas enfeixadas como “herança maldita”, designação que mais parece ter sido criada para diminuir as reponsabilidades dos governantes de momento. Não que eles necessariamente se furtem à reponsabilidade, os problemas é que se apresentam complexos demais.
É nessa hora que o contribuinte se escandaliza ao ser chamado para ajudar a fechar um buraco que não ajudou a fazer. É a hora em que nos lembramos dos gastos excessivos e desnecessários do governo anterior que se empenhou numa maratona de inaugurações quase todas com interesse eleitoreiro. A farra foi grande bastando, para citar um só caso, a criação do campus da Unidade Acadêmica de Garanhuns, ligada à universidade Federal de Pernambuco. Segundo divulga o jornal “O Estado de São Paulo” a tão propalada “primeira extensão universitária do país” encontra-se em estado lamentável no qual, para se dizer o mínimo, falta tudo.
Quem ler o jornal “Folha de São Paulo” deste domingo ficará deveras espantado com a manchete de primeira página: “Brasil perdeu uma Bolívia em desvios de cofres públicos”. Segundo o jornal, dados de órgãos de controle revelam desfalque de pelo menos R$ 40 bilhões em recursos federais em sete anos. Trata-se de valor equivalente ao PIB da Bolívia que, informa o jornal, tornaria possível reduzir à metade o déficit de 25 milhões de moradias sem saneamento no país.
Malversação de verbas públicas, corrupção ativa até mesmo dentro de ministérios, populismo enganador, sede de poder, por tudo isso e muito mais cobra-se dos responsáveis pelo país ações firmes e respeito pelo povo. Seria aviltante num país onde desmandos e corrupção correm soltas e a céu aberto taxar-se ainda mais os contribuintes para arrecadar recursos com a finalidade de sanar o que quer que seja.
O problema é que para o lado dos contribuintes o raciocínio não fecha: mais dinheiro, mais corrupção e o cidadão pagando a conta.