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Suicídios

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A morte de Nicholas Hughes, dias trás, reativa as discussões sobre o suicídio. Nicholas era filho da grande poetisa norte-americana Sylvia Plath e do escritor inglês Ted Hughes. Sylvia suicidou-se aspirando gás de seu fogão por não suportar a traição de seu marido com Assia Wevill. Assia também se suicidou anos depois. Agora foi a vez de Nicholas suicidar-se por meio de enforcamento.

Não me cabe discorrer acerca das teorias sobre o suicídio, embora reconheça que mais gente do que se pensa esbarre na idéia pelo menos uma vez na vida. O que me move são impressões suscitadas por fatos consumados e a perplexidade quando de sua ocorrência.

Nunca me esqueci de uma japonesa – eu era menino – que veio de longe até a cidade onde morávamos para visitar o cemitério onde sua mãe fora enterrada. A japonesa deitou-se sobre o túmulo da mãe e ingeriu goles de um inseticida utilizado na lavoura. Ninguém a viu morrer, mas jamais me esquecerei do rosto contorcido e da baba grossa que escorreu pela sua boca. A curiosidade de menino me valeu muitas noites de medo.

Entretanto, os suicídios que mais me deixaram perplexo relacionam-se a um jogo da seleção brasileira na Copa do Mundo de 1954. Trata-se do famoso jogo entre Brasil e Hungria no qual o “escrete” brasileiro foi derrotado por 4 a 2. Esse jogo é um dos ícones de nossa história futebolística sendo que, durante muito tempo, justificou-se a derrota brasileira graças à atuação do juiz, certo Mr. Ellis. Esse Mr. Ellis foi transformado em sinônimo de ladrão no Brasil até que testemunhos de pessoas que assistiram ao jogo e a exibição de filmes desmentiram a sua atuação tendenciosa.

Naquele célebre jogo o goleiro do Brasil era Castilho, conhecido como milagreiro por fazer defesas consideradas impossíveis. Já no formidável time da Hungria havia um jogador chamado Sandor Kocsis, conhecido como “o pássaro louco” pela forma que saltava ou se jogava para a bola.

No jogo de 1954 Kocsis anotou dois gols em Castilho, um deles de cabeça. Penso que, de alguma forma, a partir daí os destinos dos dois craques ficaram ligados. Sandor Kocsis morreu em um domingo de julho de 1979: deprimido atirou-se à rua pela janela de um hotel; Castilho morreu fevereiro de 1987: deprimido atirou-se do sétimo andar do apartamento de sua ex-mulher.

Escrito por Ayrton Marcondes

2 abril, 2009 às 10:12 am

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Postado em Cotidiano



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