Sócrates
O ex-jogador Sócrates morreu hoje e será enterrado daqui a pouco, em Ribeirão Preto. Não se fala noutra coisa nos principais sites do país. Jornais de todo o mundo repercutem a morte do ex-jogador e será observado um minuto de silêncio antes do início dos jogos da última rodada do Campeonato Brasileiro, nesta tarde.
Há muito que se dizer sobre Sócrates. Os que com ele conviveram, ao tempo em jogava e depois, falam sobre um ser humano acima da média sobre o qual existem inúmeras histórias. Sócrates jogador do Corinthians, da italiana Fiorentina, do Flamengo, do Santos, das grandes seleções brasileiras que participaram das Copas de 82 e 86 sob o comando do também já desaparecido técnico Telê Santana. Sócrates líder da Democracia Corintiana, Sócrates médico, Sócrates autor de declarações sempre lembradas, Sócrates participando do movimento das Diretas Já, Sócrates amigo de gente importante, Sócrates fã de cerveja, Sócrates ídolo popular. É um homem com tais predicados que desaparece após um período de três internações hospitalares, sendo a última devido a uma infecção generalizada que progrediu rapidamente e roubou a sua vida.
Eu vi Sócrates jogar quando ele ainda era um desconhecido avante do Botafogo de Ribeirão Preto. Aconteceu em 1977 quando o São Paulo disputou com o Botafogo o título do primeiro turno do Campeonato Paulista. Até aquele dia eu não ouvira falar sobre Sócrates, mas surpreendeu-me o futebol jogado por aquele rapaz muito magro e alto, dono de grande habilidade e visão de jogo. A partida terminou empatada em 0 X 0 sendo que esse resultado favoreceu o Botafogo que ficou com o título.
Na época eu ia bastante aos jogos realizados no Morumbi e no Pacaembu o que continuou a acontecer ao longo da década de 80. De lá para cá são passados mais de 30 anos. Nesse período o mundo mudou bastante, a população brasileira aumentou, a violência nos estádios e suas proximidades também. Deixei de assistir a jogos no campo por receio de atos violentos. Mas, antes disso, vi Sócrates jogar algumas vezes, sempre exibindo seu futebol cheio de magia e encanto.
Sócrates foi um mestre da bola, grande artista dos gramados. As pessoas que amam o futebol e acompanharam a carreira desse excepcional jogador estão tristes com o desaparecimento dele aos 57 anos de idade. Para mim a morte de Sócrates revela-se como perda de um dos elos que me ligam a uma época passada da qual a cada dia me distancio ainda mais. Talvez seja por essa sensação de perda, de desligamento com o que fomos em tempo passado, que nos faça lamentar ainda mais a morte de Sócrates.
Sócrates morre e deixa um grande vazio para os que o conheceram e o viram jogar. Era ídolo incontestável: as manifestações de pesar que correm o mundo atestam a dimensão de um jogador de futebol cuja arte transcendeu os gramados para permanecer nas memórias.