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As quatro Marias

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Desde o começo as quatro Marias despertaram ternura, em alguns casos paixão. Afinal elas eram quatro, todas com o nome Maria, a Maria I, a Maria II, a Maria III, a Maria IV… Devoção da mãe à virgem?

As Marias gêmeas identificadas pela cor da roupa de cada uma:  puro encanto. A mãe, a prodigiosa mãe com sua não menos prodigiosa barriga, enorme, da qual sairão para ver a luz do mundo as Marias. E aqueles a quem o fato causa estranheza a buscar no livro das probabilidades a probabilidade de uma mulher trazer quadrigêmeas à luz.

A mãe aparece na mídia, é entrevistada. Chama a atenção a enorme barriga que parece projetada espacialmente para abrigar as quatro Marias. Já não se pode conter o impulso de ajudar o casal. Há quem mande presentes, garante-se aos pais estoque de fraldas para um ano inteiro, uma loja envia presentes no valor de 7 mil reais.

Assim, esperamos as Marias que hão de vir. Será parto natural? Será cesariana? O fim da gravidez aproxima-se, em breve o Brasil , terra da fertilidade, pátria em que tudo dá, terá as novas Marias, quatro gêmeas, cada uma com roupas de cores diferentes para que não sejam confundidas.

Até que de repente, não mais que de repente, o sonho estremece. Fala-se que as Marias não existem, diz-se que é falsa a gravidez. Será? Mas, a barriga formidável, enorme? E por que teriam inventado história tão tosca sobre essas Marias que esperávamos tanto?

Por fim, o sonho termina: a mãe confessa que não está grávida, não há nenhuma Maria, nem a I, nem a II…

As Marias de que tanto se falou nos últimos dias não existem. Especialistas curvam-se sobre teorias e levantam suposições sobre as razões da mulher, a que traria à luz as quadrigêmeas, ter inventado história tão louca. A polícia decide investigar e a mulher corre o risco de responder por falsidade ideológica.

Nós? Ora, nós queríamos, esperávamos pelas Marias. De algum modo, durante o curto período de existência fictícia, elas renovaram a nossa esperança no gênero humano, despertaram solidariedade e nos fizeram acreditar no sentido da vida. Mas, as Marias não vieram, não viram a luz e agora resta o vazio de um mundo sem as quatro meninas que, na verdade, pertenciam a um sonho.

Escrito por Ayrton Marcondes

21 janeiro, 2012 às 7:30 pm

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