Minisséries
Descobri que em alguns canais da TV paga os filmes dublados em português podem ser assistidos com som original e legendas. Trata-se do mistério do tal PIP que afinal existe, graças a Deus. Digo isso porque acho que filmes dublados perdem parte de seu encanto, embora muitas vezes seja muito bom o trabalho dos dubladores.
Creio que na medida em que se envelhece vai-se perdendo um pouco da sede de novidades e vontade de fazer coisas. As notícias parecem ser as de sempre, exceto por um ou outro grande acontecimento como essa queda de três prédios no Rio de Janeiro que está nos envolvendo tanto. Até agora a Defesa Civil não conseguiu chegar a uma conclusão sobre as causas da tragédia, suspeitando-se de obras que se realizavam numa empresa do 9º andar de um dos prédios. Mas, deixa pra lá, eu queria mesmo é concluir que na medida em que envelhecemos ficar em frente a um aparelho de televisão sem fazer nada até que se torna razoável distração.
Vai daí que por vezes deixo os filmes e frequento as minisséries da Globo e aquele programa meio louco, por vezes exagerado, que tem o nome de “Agora é Tarde” veiculado pela Bandeirantes. No caso das minisséries acompanhei os capítulos de “Dercy De Verdade” que recapitulou a trajetória dessa grande artista a quem vimos em palcos e na telinha por anos a anos. O grande problema de “Dercy”, assim como de algumas outras minisséries, é o fato de nelas as personagens serem por demais estereotipadas. Em “Dercy” por mais que se quisesse fugir ao apelo da caricatura não se conseguiu totalmente, fato que nos levou a conhecer uma pessoa que se casava bem com o que sabíamos dela enquanto artista, mas faltando-lhe um pouco mais enquanto ser real. A Dercy da minissérie é um monumento de irreverência 24 horas por dia, fato que nos fez vê-la sempre em ação e com pouca interioridade. Entretanto, valeu a pena embora ficássemos com a sensação de que faltou algo, algo mais sobre uma artista que fez parte do cenário de nossas vidas por longo tempo, ela que, entre outras, conseguiu a façanha de viver até os 101 anos de idade.
Nesta noite será apresentado o último capítulo da minissérie “Brado Retumbante” cujo principal personagem é um político que chega à presidência da República pelo acaso da morte num acidente do presidente em exercício e de seu vice. “Brado Retumbante” é boa diversão e tenta estabelecer comparações com os deslizes frequentes observados nos dia-a-dia da política nacional. Em alguns casos existem referências claras a incidentes reais acontecidos recentemente no país e não são de todo inexatas as comparações de algumas das personagens com políticos atualmente em atividade. Mas, como em Dercy, há excesso de estereótipos, a começar pelo presidente da República o qual notoriamente não poderia ser “de verdade”. O presidente tem pinta de galã, envolve-se com mulheres, enfrenta problemas domésticos terríveis, é abandonado pela mulher, sofre atentado e se apresenta como um campeão na intolerância e combate à corrupção. Mas, como disse um comentarista a trama de “Brado Retumbante” mais parece um cenário onde pipocam picuinhas pessoais que resultante de uma estrutura envenenada e corrompida. Por outro lado, “Bravo Retumbante” chama a atenção do público, caricatamente é verdade, para os males da vida política nacional que a todo custo os donos do poder querem apresentar como absolutamente normal.
As observações acima correm o risco de serem afrontadas pelo fato de que, afinal as minisséries são trabalhos ficcionais e no mundo da ficção as regras são outras. Entretanto, vale lembrar que nesses dois casos um envolve personagem real, o outro um novelo de situações que diz respeito à vida atual dos brasileiros. Isso não é pouco, ainda mais num país em que a indecisão sobre o verdadeiro caráter das pessoas é motivo de tanta preocupação.