Quando crianças morrem
Crianças que morrem deixam-nos um nó na garganta. Talvez pela sensação de vidas não vividas por inteiro, projetos não consumados, ciclos precocemente interrompidos. Comove-nos a dor de pais à qual somos solidários, mas cujas razões relutamos tanto em aceitar.
Entretanto, a situação piora quando as mortes estão ligadas a acidentes que poderiam ter sido evitados. Nesses casos, cada um deles com suas circunstâncias particulares, levanta-se um clamor público alicerçado pelas notícias que a cada instante acrescentam um detalhe novo capaz de prorrogar a indignação e a dor coletiva. É quando passa a falar mais alto aquele “poderia ter sido com a minha família, com um filho” daí cobrarem-se atitudes, esclarecimento das razões, enfim a punição de responsáveis.
Nos últimos dias duas mortes de crianças comoveram a opinião e seguem em pauta nos noticiários. A primeira delas foi a morte de uma menina de 03 anos de idade numa praia de Bertioga, atingida que foi por um jet sky desgovernado. Até agora não se sabe bem como tudo aconteceu, embora se tenha a confissão de outra criança, essa de 13 de idade, de que ligou o jet sky e foi jogada para fora dele, daí o veículo ter seguido sem ninguém na direção, atingindo a menina. Em torno desse fato muita especulação, idas e vindas de testemunhas, declarações de policiais e entrevistas de advogados. O assunto tem rendido toda sorte de comentários, destacando-se de um lado a proteção ás famílias do pequeno infrator, de outro as terríveis cenas da mãe da menina morta a chorar e pedir que a justiça seja feita. Mas, o que fica mesmo são as imagens da criança na praia, brincando na areia, filmada que foi ela minutos antes de ser tragicamente atingida.
A segunda morte foi a de uma menina de 14 anos que veio do Japão com os pais para conhecer o Brasil. Estava ela num brinquedo do parque Hopi Hari e despencou de uma altura de cerca de 20 metros, morrendo em seguida devido ao impacto de seu corpo no solo. Agora apuram-se as possíveis causas do acidente, se mecânicas, se humanas, ou ambas. O fato está estampado nas primeiras páginas dos noticiários e espera-se que tudo venha a ser esclarecido. Mas, infelizmente, nenhuma explicação devolverá à vida a menina que veio do Japão para encontrar tão triste fim no Brasil. Em relação a esse caso comove a visão da face da mãe da menina cujos contornos dos olhos estão arroxeados de tanto chorar. Trata-se de conviver com algo que não tem retorno, talvez com um descuido que poderia ter sido evitado, enfim com a perda de um ente mais que querido cuja ausência provoca e sempre provocará muita dor.
É antiga a ponderação de que nessa vida o certo é filhos enterrarem os pais e não o contrário. Infelizmente o contrário tantas vezes acontece, às vezes com pais dolorosamente enterrando seus filhos ainda pequenos, fatos para os quais nenhuma explicação é suficiente no sentido de abrandar a dor e o sofrimento dos que ficam.