Morte na Austrália
Não era comum, décadas atrás, que rapazes brasileiros fossem viver no exterior. Lembro-me de um parente, filho de pai abastado, que viajava ao exterior com alguma frequência. Quando voltava falava-nos de Nova York, Paris e outras cidades do mundo que, para nós, pareciam ficar em outro planeta. As distâncias de então pareciam incomensuravelmente maiores e a comunicação era muito difícil.
Hoje em dia inúmeros rapazes brasileiros vivem no exterior, grande parte estudando em faculdades, fazendo cursos de línguas estrangeiras etc. A maioria deles consegue algum dinheiro fazendo bicos e, ajudados ou não pela família, acabam levando vida bastante razoável fora do país.
Quem tem filho morando fora em geral se preocupa bastante. Verdade que na maioria dos países para onde vão os nossos jovens o ambiente nem de longe se assemelha ao do nosso cotidiano em termos de violência. Segurança é tudo e vale a pena viver num lugar onde se pode circular pelas ruas a qualquer hora do dia e da noite sem o perigo de ser abordado por bandidos.
Agora surge o caso desse rapaz morto pela polícia em Sidney, Austrália. As circunstâncias que precederam a morte do rapaz são nebulosas, mas o desenlace final foi presenciado por testemunhas: o rapaz estava correndo dos policiais e foi atingido por choques emitidos por armas que o mataram. Não se sabe ao certo o que ele teria feito para provocar a perseguição policial. Fala-se sobre o roubo de um pacote de bolachas numa loja, mas isso parece não ter acontecido. Em todo caso sabe-se que apenas uma descarga elétrica teria sido suficiente para imobilizá-lo e ele recebeu três ou quatro. Uma testemunha que presenciou a cena afirma que o rapaz, já no chão, gritou por socorro, mas os policiais aplicaram-lhe mais choques daí ter morrido.
A vítima tinha 21 anos de idade e seu visto de permanência na Austrália duraria até 2014. O fato estarreceu o país onde o nível de violência é muito baixo e uma ação como a dos policiais desperta reação da opinião pública. Discute-se a validade de serem usadas pela polícia armas como as que provocaram a morte do rapaz.
O governador do estadão de Nova Gales do Sul, onde fica Sidney, promete transparência na investigação do caso e existe a possibilidade de que o uso de eletrochoques seja banido. O governo brasileiro faz a sua parte, exigindo explicações sobre o infausto acontecimento. Mas, nada disso restituirá à família esse rapaz de 21 anos, morto durante tão desastrada e absurda ação policial.