Atrás da janela
Você olha pela janela e vê outras janelas, alinhadas, arrumadinhas de outros prédios. Passa pela sua cabeça que atrás de cada janela existem pessoas, famílias com seus gozos, problemas etc. Como será a mulher que mora atrás da janela no 7º andar do prédio defronte? Moça? Velha? Solteira, casada, separada? Você se pergunta sobre isso e então se dá conta de que talvez atrás daquela janela exista alguém pensando em quem está atrás da janela do seu apartamento, enfim cismando sobre quem poderia, afinal, ser você.
E se você tivesse que dizer a ela quem você é o que escolheria para apresentar-se? Será que ela estaria se perguntado se atrás da janela do 7º andar do prédio em frente ao dela – justamente a sua – mora um homem ou uma mulher? Moço(a) ou velho(a)? Solteiro (a) casado (a)? Ou talvez ela - mas, quem disse que se trata de uma mulher? - não esteja interessada em saber de nada porque passa por fase em que tudo está de ponta cabeça e a vida perdeu o sentido?
Mas, hora da verdade. Não finja porque você sabe muito bem que o morador atrás da janela do 7º defronte é uma moça que todo dia chega às 7 horas da noite. Não só e moça como bonita e abre a janela, achando, talvez, que olhos intrusos não estão ligados nela. Mas, você está e espera, todo dia, pela chegada dela, sabendo que ela vai se trocar, vestir-se com algo mais confortável, dessas roupas que usamos para ficar em casa.
Você espera, ansioso, pela chegada dela. Por isso, sempre dá um jeito de trancar-se no seu quarto para que ninguém o surpreenda com de olhos pregados na vizinha do prédio da frente.
De certo modo essa rotina de voyeurismo conforta o seu espírito. Pena que tudo se passe apenas na sua cabeça porque, desde que aconteceu o acidente, você não sinta nada da barriga para baixo. É uma dureza essa vida de deficiente físico, sentado o dia todo no carrinho. Mas, até que você já está se acostumando, ainda mais agora que já se aproxima a hora da chegada da moça e o seu coração está aos pulos dentro do peito.