Saudações ao planeta
A Rio+20 está acabando e o que se diz é que tudo vai continuar na mesma. Ativistas protestam, governos passam a bola para o futuro e ninguém diz como se alimentarão 9 bilhões de pessoas em 2050. O documento final a ser aprovado desencanta pela timidez de propostas e acordos, mas há sempre quem se ufane do “jeitinho brasileiro” com o qual se logrou que pelo menos existisse um documento. O secretário geral da ONU que inicialmente criticou o documento agora passou a elogiá-lo e há quem veja nisso uma adesão dele ao tal “jeitinho” tão comum em nossas plagas.
Mas, o que realmente chama a atenção é a divergência de opiniões sobre a questão do aquecimento da Terra. Nos últimos anos temos sido bombardeados por avisos de que é preciso frear a emissão de gases estufa dado que eles formam um cinturão em torno da Terra, impedindo a difusão de ondas de calor daí derivando o aquecimento global. Imagens de geleiras se desfazendo são constantemente exibidas e os agravos climáticos que têm-se tornado frequentes no mundo são apontados como consequência do descaso em relação ao ambiente. Filmes mostrando a destruição de cidades pela invasão de gigantescas ondas de água causam-nos calafrios assim como notícias de que o nível dos mares está subindo e cidades situadas em regiões costeiras desaparecerão. Contra tudo isso se exige ação imediata dos governos e participação coletiva das populações, afinal cabe a cada ser humano dar a sua parcela de contribuição para salvar o mundo e deixá-lo inteiro e em ordem para as gerações que hão de vir. Aliás, o desenvolvimento sustentável é exigência cada vez mais urgente, para isso chamando-se à responsabilidade aqueles que têm em mãos poder para tomar decisões nesse sentido.
Entretanto, causa espécie o número de cientistas que vêm a público para externar a absoluta discordância em relação à verdadeira febre de condenação do mundo sob os efeitos do aquecimento global. Para eles os fenômenos atmosféricos ora observados fazem parte de um ciclo da Terra nada tendo a ver com a emissão dos gases estufa. Afirmam que a Terra passa por períodos regulares de esfriamento e aquecimento e isso faz parte da rotina do planeta sendo-nos impossível interferir nesse processo. Obviamente, esses cientistas não descartam a importância do desenvolvimento sustentável, estão atentos à necessidade de reduzir a poluição em todos os ambientes, enfim valorizam a ecologia como um todo apenas discordando em relação ao aquecimento global.
Para alcançar resultados satisfatórios Rio+20 que agora termina teria que superar diferenças muitas vezes irreconciliáveis de interesses, a começar pelas concessões necessárias dos países ricos em relação aos emergentes e pobres. Consertar o mundo custa muito dinheiro e justamente o dinheiro é o que está faltando, por exemplo, para a solução da atual crise europeia que já contamina todo o planeta. Entretanto, isso não significa que todos os esforços não tenham que ser empregados para a obtenção de um acordo comum em prol da saúde do planeta em que vivemos.
É hora de se perder pelo mesmo um pouco no sentido de preservar o planeta. E isso só acontecerá se a Terra for entendida como moradia na qual a geração atual é apenas transitória. Apesar da visão de eternidade que permeia os nossos dias não passamos de inquilinos no planeta, cabendo-nos a obrigação de cuidar bem dele para que continue habitável no futuro.