O fim da Kombi
Leio que a Kombi vai parar de ser fabricada. Há 55 anos o primeiro modelo do utilitário era fabricado no Brasil. A notícia revela que há brasileiros apaixonados pela Kombi daí não a largarem de jeito nenhum. Mas, também se diz que não há brasileiros de mais de 60 anos de idade que não tenham alguma relação passada com o veículo fabricado pela Volkswagen.
Ora, a última afirmação do parágrafo anterior me fez pensar: eu e a Kombi? Quando? Em que circunstâncias? Pois bastou puxar pela memória só por um instante para que me voltassem situações em que eu estive dentro de uma Kombi. Uma delas foi numa terrível e desastrada viagem à praia dentro de uma Kombi lotada nos meus tempos de rapazote. Calor infernal, desconforto de um utilitário que não era para passeio. Outras situações aconteceram em época de viagens a serviço pelo interior, sempre levado por algum funcionário de empresas que dirigiam as Kombis. Durante um desses trajetos, na região de Jaú, avistei um arvoredo cuja imagem nunca me saiu da cabeça. Íamos pela estrada e, ao longe, árvores muito altas curvavam-se sob o impacto do vento e chuva fortes. A luta das árvores resistindo à intempérie, os raios que caiam em meio à floresta e o ruído dos estrondos geravam cenas de filmes, inesquecíveis. Talvez por isso, toda vez que acontece uma tempestade as imagens que vi naquela estrada retornem à minha memória.
E dizer que dirigi uma Kombi carregada no trajeto entre São José dos Campos e Santos. Era daquelas com carroceria adaptada e lá iam alguns móveis pesados. Quando passei pelo pedágio da Anchieta deparei com intensa neblina. Depois de algum tempo, no começo da descida da serra, percebi que não vira nenhum carro durante o trajeto. Estava sozinho e para dizer a verdade quase não via nada tão intensa era a neblina. A certa altura percebi um carro ao meu lado, sinalizando para que eu encostasse. Quando consegui parar veio um guarda rodoviário para me dizer que eu fora o último veículo a passar antes que o pedágio fosse fechado. A estrada estava intransitável e com visibilidade zero, daí eles terem vindo para me socorrer. Que eu os seguisse até o fim da serra para evitar o risco de acidente. E há quem não acredite em anjos…
Imagino que milhares de pessoas sejam capazes de contar passagens como as anteriores, certamente mais interessantes. Entretanto, o que me levou a tocar nesse assunto é justamente o tempo que corre e a obsolescência inevitável de tantas coisas que nos foram tão úteis. A Kombi faz parte de uma época que se vai com ela. Com o fim da Kombi retira-se das ruas parte das nossas memórias. Mas, não há outro jeito: a indústria automobilística cria a toda hora novos modelos e a mudança nas linhas de produção faz parte de um jogo que visa atender às necessidades do público e fazer crescer as vendas.
Ficam as lembranças.