Passagem do tempo
Contabilizamos a duração da vida em acordo com o calendário gregoriano. Promulgado pelo Papa Gregório XIII, em 1582, o calendário determina a duração do ano civil, sendo utilizado no mundo inteiro. Dias, semanas e meses fazem parte do calendário e norteiam a passagem do tempo de nossas vidas.
Bem, nenhuma novidade no que está escrito no parágrafo anterior. Todo mundo sabe disso e nada há a fazer em relação ao tempo que devora a existência. O problema é que nem sempre nos damos conta de que o tempo realmente passa e existe um fim para a vida. De repente, não mais que de repente, o jovem saudável do passado descobre-se envelhecido. Progressivamente suas aptidões físicas e mesmo mentais se reduzem. O organismo começa a pagar pesados tributos aos desgastes provocados pela longevidade. Doenças acossam, males podem vir acompanhados de muito sofrimento. A página que fecha o livro da vida em geral não contém relatos de fatos agradáveis.
Entretanto, uma boa vida pode muito bem ser coroada com período final caracterizado por muita compreensão e felicidade. Cada fase da existência tem seus prós e contras, com a velhice não é diferente. Não se trata de fazer coro à tal “melhor idade” que de melhor não tem é nada. Não custa, porém, recordar que na velhice as pessoas têm a seu favor a experiência acumulada e certo olhar mais compreensivo em relação ao fenômeno vida. Daí que não se justificam tantos inconformismos observados por aí afora. Quem não conhece pessoas que ficaram velhas e simplesmente não aceitam ou se revoltam contra as limitações trazidas pela idade?
Escrevo isso por ter contato com pessoa extremamente ativa em seu passado, dotada de muita inteligência e realizada economicamente através de seu próprio esforço. Bela história de superação pessoal a dela que vinda de baixo hoje em dia goza de conforto e tornou-se dona de seu nariz como se diz por aí. Pois nada disso serve a ela como estímulo. Vez por outra me fala ao telefone e repete o mote que adotou de tempos para cá: a velhice é triste.
De nada adianta lembrar a essa pessoa sua imensa capacidade de superação, o sucesso de sua carreira, os filhos bem criados, os muitos netos, a família que a reverencia. Tudo isso parece sucumbir diante do fantasma do envelhecimento cuja marcha progride a cada minuto e dia do calendário.
A pessoa de quem falo queixa-se do envelhecimento, mas não quer morrer. O apego à vida a mantém ereta frente à batalha que tem pela frente a cada manhã. Sabe que o tempo não tem volta, nisso a razão de seu inconformismo.