A saúde do brasileiro
Quando fiz 60 anos de idade recebi de presente um respeitável aumento na mensalidade do plano de saúde. Acontece que depois dos 60 a possibilidade de utilizar o plano aumenta significativamente, essa a explicação que me deram quando reclamei. De nada valeram os meus argumentos de ter pagado o plano durante 20 anos sem quase nenhuma utilização. Até que alguém me disse que teria sido mais esperto depositar e aplicar todo mês o valor das mensalidades para o caso de no futuro precisar do dinheiro para alguma necessidade relacionada à minha saúde.
Não fiz o que me sugeriram e nem teria feito se tivesse outra oportunidade. Dinheiro vai embora na primeira grande necessidade e eu provavelmente não disporia hoje de recursos para o caso de uma doença grave - um amigo que faleceu recentemente, vitimado por câncer, gastou o que tinha e o que não tinha em busca de cura para a doença.
Todo mundo sabe que o sistema público de saúde não funciona bem no Brasil. Filas enormes, falta de leitos, atendimento precário etc. fazem parte de um quadro que se agrava sem solução à vista. Hoje mesmo se noticia o caso de uma mulher que recebeu café com leite na veia e morreu. A enfermeira, obviamente despreparada, injetou na veia o que era destinado à cânula para alimentação. Coisa que acontece, mas que simplesmente não pode acontecer porque o prejuízo é monumental: a morte do paciente.
De modo que a solução fica - para quem tem condições de pagar - por conta de um plano de saúde oferecido pelas operadoras que estão no mercado. Acontece que os médicos estão em guerra contra as operadoras que os pagam mal, daí a necessidade de muitas horas de trabalho para alcançar salários que estão longe de ser justos.
Trata-se de um imbróglio de difícil solução. O governo federal quer mais médicos em atividade no país fato que requer mais faculdades de medicina. Entretanto o número de faculdades é já grande e boa parte delas não têm hospitais próprios, daí os estudantes estagiarem em hospitais conveniados. Por outro lado reclama-se da má formação dos estudantes quando se formam. Muitos deles conseguem fazer a residência médica que em todo caso é caminho para formação de especialistas sendo que que mais falta é o clínico geral. Além disso, as entidades médicas insistem que o problema não está na quantidade de médicos, mas na distribuição deles nas diferentes regiões do país.
Semana passada ouvi a entrevista do Dr. Adib Jatene na qual ele lembrava que o crescimento populacional do Brasil não tem se acompanhado pela geração de recursos para atendimento da população. Além do que a evolução tecnológica e a decorrente possibilidade de novos exames para diagnóstico torna o atendimento muito caro. E de onde tirar tanto dinheiro?
Como se pode notar através dessas rapidíssimas pinceladas o problema é sério e preocupante por que todo mundo tem direito a ser atendido e cuidado em relação à saúde pessoal. Daí que soam estranhas as falas de candidatos a cargos públicos que sempre prometem melhora do atendimento da saúde pública sem detalhar como isso poderá ser feito. E que dizer da moçada que estuda muito para os tão concorridos vestibulares das faculdades de medicina, sonhando com a profissão que momento atravessa enormes dificuldades?
Assunto para pensar e agir com rapidez e precisão.