O pior pastel do mundo
Desde menino sou fissurado em pastéis. Na cidade do interior em que morava a minha avó, um chinês abriu pastelaria e logo conquistou muita freguesia. Eu simplesmente adorava os pastéis do chinês. Qualquer dinheiro que caia no meu bolso tinha destino certo: comprar um pastel de carne no chinês. Mas, essa bela história não teve final feliz porque, depois de algum tempo, verificou-se uma diminuição do número de gatos na região onde ficava a pastelaria. Certo dia fui à pastelaria e a encontrei fechada. Fechada não, lacrada. Só então descobri que andara comendo carne de gatos utilizada pelo dono na produção dos seus pastéis.
Mas, o pastel do chinês não era o pior do mundo. Que fiquem claras as condições necessárias para a escolha do pior: é preciso alguém estar com muita fome, gana por um pastel e encontrar um deles que não seja possível comer.
Aconteceu comigo dias atrás experiência terrível. Não sei se você alguma vez fez o trajeto entre São Luís do Maranhão e a cidade de Barreirinhas. Isso mesmo, a Barreirinhas onde ficam os famosos, os maravilhosos, Lençóis Maranhenses. Para quem não sabe o percurso entre as duas cidades é de cerca de 300 km e a viagem se faz por ônibus ou vãs - há também a possibilidade da via aérea em aviões monomotores.
Peguei o ônibus às seis horas da manhã na Estação Rodoviária de São Luís. O que não esperava era a morosidade do ônibus que gastou quatro horas e meia para fazer o percurso. Não é o caso de demorar-me aqui sobre a triste paisagem que pude ver através da janelinha do veículo. A pobreza no interior do Maranhão é agressiva, terrível, dessas que nos acossam a ter remorso até pelo pouco que carregamos no bolso. São brasileiros, famílias inteiras, vivendo em condições para lá de precárias. Situação triste que revela o outro lado de um país no qual impera a desigualdade e o descaso de governos que, ainda assim, se rejubilam pelos seus “memoráveis” feitos.
Bem, a meia viagem o ônibus parou num lugar para que os passageiros pudessem comer alguma coisa, usar banheiro etc. Foi quando se formou fila com pessoas pedindo o único salgado disponível no lugar: o pastel. Ora, justamente o pastel. Vi que as pessoas pediam, pagavam e saiam comendo seus pastéis - fazendo boa cara, diga-se. Diante disso me animei: estava com fome e adoro pastéis. O problema se deu na primeira mordida: o pastel era intolerável, intragável, “in” o que quer que seja como prefixo de palavra que designe qualquer coisa muito ruim. De fato aquele pastel era de uma ruindade ultrajante a começar pela massa grosa, espessa, mole, desfazendo-se. Frio, muito frio. Não me atrevo a falar alguma coisa sobre o conteúdo escondido sob a malfadada massa.
Confesso que não consegui engolir aquilo. Fora do bar cuspi o que tinha na boca e dei um jeito de me livrar do restante do pastel. Não houve como não maldizer a hora em que me deixei levar pelo impulso de comprar o pastel. Fiz o resto da viagem com o estômago embrulhado. Agora, passados alguns dias, fico pensando na genialidade gastronômica da(o) chefe de cozinha do bar. Genialidade às avessas que logrou produzir, talvez, senão o pior pastel do mundo, forte candidato ao título.
Se você algum dia for de ônibus a Barreirinhas, cidade ótima, aconselho não se arriscar ao pastel que está a venda no caminho.