Inferno das tartarugas
Minha tia nunca ficou de bem com a vida. Tinha lá suas razões para reclamar da sorte madrasta que colocara a ela empecilhos demasiados ao longo da existência. De casamento desfeito e perda de filho em circunstâncias deploráveis viveu por conta de arranjos de momento, lutando sempre, mas sem conseguir avanços significativos. Quando se cansava de tudo repetia palavras que traduziam muito bem a visão que tinha deste mundo: o inferno é aqui mesmo.
Pois acredito que o inferno seja mesmo aqui tal a capacidade revelada pelos homens na prática do mal. O pior acontece quando práticas ilícitas revelam total insensibilidade em relação a seres indefesos. Esse é seguramente o caso da ação dos chamados tartarugueiros que agem na região amazônica. Como o nome está a indicar os tartarugueiros capturam e comercializam tartarugas, vendendo-as para o consumo da carne desses animais. Entretanto, não se trata apenas de capturar e vender fato que por si só coloca em risco espécies já catalogadas como em vias de extinção. O pior é submeter os pobres animais a maus tratos que causam a eles grandes sofrimentos.
Em Roraima a polícia conseguiu libertar 400 tartarugas que estavam em poder de tartarugueiros. As maiores eram deixadas de costas para baixo, situação da qual não conseguem sair quando fora da água. Nessa posição, sem água e alimentos, os órgãos internos se descolam e comprimem o pulmão, causando asfixia que pode levar à morte. As tartarugas menores foram encontradas em pequenos cercados, no meio da lama, umas sobre as outras, nas piores condições possíveis.
Para os tartarugueiros essa desgraça toda compensa financeiramente dado que uma tartaruga-da-amazônia inteira é vendida por R$ 500,00. Além do que os tartarugueiros também se apoderam dos ovos que as tartarugas colocam apenas uma vez por ano e que servem como alimento.
Assim se passam as coisas nos ermos dos longos rios da Amazônia. Tartarugueiros presos são libertados em seguida após pagarem fiança de um salário mínimo.
Pobres tartarugas.