Locutores Esportivos
Quando as transmissões de jogos de futebol pela TV apenas engatinhavam o jeito era acompanhar pelo rádio. As Copas de 58 e 62, por exemplo, foram ouvidas pelo rádio. O mesmo com as Copas de 50 e 54 as quais não ouvi por ainda estar no limbo da idade. Mas meu irmão e tios sempre se referiam às atuações do fantástico Bauer no “escrete nacional”. Não tenho certeza, mas tenho a impressão de que ninguém mais usa a expressão “escrete nacional” para se referir à seleção brasileira de futebol.
Bem, cada um tinha a sua rádio favorita e, obviamente, os locutores e comentaristas de sua preferência. Em menino cheguei a ouvir a poucas transmissões do grande compositor Ari Barroso que, entre outras façanhas, dava-se ao luxo de ser locutor esportivo. Em geral os torcedores paulistas não gostavam das irradiações de locutores esportivos cariocas que tinham estilo bem diferente da moçada da Paulicéia. Por aqui os favoritos eram Pedro Luís, Edson leite, Fiori Giglioti, isso para ficar nos nomes de uns poucos. Comentaristas eram o Mário de Moraes, o Mauro Pinheiro isso para também ficar em nomes que a memória me trás de imediato. As locuções pela TV ficavam por conta do Walter Abraão que tinha jeito muito próprio de narrar pela TV Tupi.
Hoje em dia estão nas rádios vários locutores, alguns muito bons. Competem com eles as transmissões de jogos pela TV que roubam a atenção de torcedores que ouviriam os jogos pelo rádio. Quanto a mim ainda prefiro o rádio, por incrível que pareça. Na verdade assisto parte dos jogos pela TV e mudo para o rádio quando as coisas não estão favoráveis ao time de meu interesse. Conheço muita gente que desliga o som da TV e ouve o jogo pelo rádio, acompanhando as imagens da TV. Acontece entre os locutores da TV com frequência falarem sobre muita coisa, deixando o jogo de lado. Isso enerva a os torcedores mais fanáticos a quem interessa exclusivamente oque se passa em campo.
Dos grandes locutores do rádio para mim o melhor sempre foi o Pedro Luís. Ele conseguia transferir para o dial do rádio as linhas do campo de futebol, situando o torcedor, com exatidão, nos lugares onde se desenvolviam os lances. Tinha um jeito especial de narrar os lances, situando o jogador que estava com a bola, quem estava perto dele e as possibilidades de andamento da jogada. Era perfeito. Ainda hoje, muita gente se mostra influenciada pelo jeito dele narrar.
Escrevo sobre isso porque hoje faleceu o Luís Noriega que narrava jogos pela TV Cultura. Tinha ele um modo diferente de narrar: mais equilibrado, contido, primando pela imparcialidade que a TV Cultura exigia como norma em suas transmissões de jogos. Era, porém, muito agradável assistir a jogos pela TV Cultura, justamente pelas narrações do Noriega.
Quando surgiu a TV especulava-se sobre o destino do rádio. Gente aficionada - como eu - jamais temeu pela sorte do rádio. O fato é que o rádio continua firme e forte, conquistando cada vez mais simpatizantes. Aliás, tão firme e forte quanto essa gente toda que narra esportes, mantendo aceso o fogo e a fé das grandes torcidas.