Domingo de Ramos
Domingo de Ramos é dia de recordar minha mãe buscando ramos de plantas para leva-los à igreja. Mamãe acordava cedo e ia à missa das 8h. Naquele tempo a rua não tinha calçamento e muita gente dirigia-se à igreja sob o repique dos sinos que anunciavam a proximidade do início da missa.
Na missa o padre lia a passagem do evangelho que descreve a entrada de Jesus em Jerusalém. Ia o filho de Deus montado num burro e as pessoas estendiam mantos para a sua passagem. Essas mesmas pessoas acompanhariam a crucificação de Jesus algum tempo depois.
O padre repisava a passagem bíblica e falava sobre a falsidade dos fariseus. Os fiéis, gente simples do campo, ouviam e oravam, pedindo perdão a Deus pelos seus pecados.
Ao final da missa o padre benzia os ramos. Então os fiéis saiam da igreja, carregando os ramos numa procissão de verde realçado pela luz da manhã. Os sinos tocavam enquanto as pessoas levavam para as suas casas as palmas bentas.
Mamãe guardava em gavetas as palmas bentas. Não era incomum que as achássemos, tempos depois, já secas e tivéssemos os cuidados de não mexer nelas porque eram bentas.
As palmas ficavam guardadas até se tornarem necessárias por ocasião de grandes tempestades. Quando o céu se tornava negro, o dia virava noite e raios e trovões iluminavam a escuridão, então era chegada a hora das palmas. Nessas ocasiões, como de hábito, os espelhos da casa eram cobertos com lençóis, acendiam-se velas e as palmas bentas eram queimadas.
Nós nos defendíamos das intempéries e desgraças com as palmas. Por isso, era tão importante o Domingo de Ramos no qual os padres benziam palmas e outros ramos de árvores. Depois de bentos os ramos se tornavam nossos aliados contra perigos contra os quais nada podíamos.
Eram outros tempos. Eu era só um menino e para mim que bom que os ramos nos protegiam e permitiam que, nas segundas-feiras, o sol voltasse a brilhar e a vida continuasse.