Ricos e pobres
Obama elogia Lula dizendo “eu adoro esse cara” e “é o político mais popular da Terra”. Dora Kramer escreve em “O Estado de São Paulo” que “no efeito reflexo, americano tirou o melhor proveito do elogio feito a Lula”.
Os editoriais dos jornais concordam que Lula representou bem o país, saiu-se bem na reunião do G20. Fernando Rodrigues escreve na “Folha de São Paulo” referindo-se à culpa de europeus e alguns norte-americanos em função da assimetria existente entre países do norte e dos sul. E continua: “Pronto: aí está a combinação perfeita para colocar um pobre (Lula) ao lado de um nobre (a rainha)”. Noutra parte, Fernando comenta: “sentado sorridente na foto oficial, Lula se presta a ajudar a lustrar a imagem dos ricos. Sua contrapartida é óbvia. Não é todo dia – aliás, não é mesmo – que um presidente brasileiro é tão bem tratado nesses fóruns externos”.
Bem. O Brasil não é mais exatamente o país que era no passado, hoje até prontifica-se a ceder dinheiro para o FMI (nas sessões de leitores dos jornais lêem-se muitas cartas protestando contra isso). Para que se tenha idéia consta que em 1961, quando da eclosão da crise da Baia dos Porcos, o Brasil enviou um mediador para tentar solucionar a questão. O mediador foi ignorado e aqui acusou-se o governo brasileiro de forçar a barra para se inserir no cenário internacional.
Nem seria preciso dizer que os tempos são outros. Hoje o Brasil está entre os países do G20 e não precisa do FMI. Até aqui vem atravessando a crise mundial com perdas, mas com alguma folga. Posto isso, que dizer dos elogios ao presidente e de sua posição ao lado da rainha na foto?
Confesso que ao ver a foto experimentei uma retração. Pareceu-me que algo estava fora do lugar. A sensação foi a de que não propriamente o presidente, mas o país por ele ali representado tinha ascendido à condição de novo-rico. E é sabido o que os verdadeiramente ricos pensam sobre os novos-ricos. Foi aí que me lembrei do título de um dos livros do Joel Silveira: “você nunca será um deles”.
Foi bem o presidente, foi muito bem na reunião do G20. E quem sabe todo esse nosso falatório não seja apenas fruto de certo complexo de inferioridade nacional. Caso seja assim, está mais que na hora de revisarmos esse ponto.