Um homem, duas mulheres at Blog Ayrton Marcondes

Um homem, duas mulheres

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Numa capital de estado do nordeste fui recebido no aeroporto por um rapaz, boa gente, que me levaria ao local onde eu proferiria uma palestra. Depois de deixar a mala no hotel ele me convidou a uma volta para conhecer a cidade. Durante o trajeto empenhou-se ele em me deixar a vontade, tanto que me levou até um prédio onde deveria buscar uma moça para levá-la ao centro. Aliás, pediu-me muitas desculpas por isso dado que não se apercebera da hora e justamente aproximava-se o momento de pegá-la.

Quando chegamos ao local a moça já estava na porta do prédio e abriu um enorme sorriso ao ver-nos. Moça bonita, ainda jovem, estava grávida de uns sete meses conforme indicava o volume de seu abdômen.  

A moça entrou no carro e me foi apresentada pelo rapaz como a mulher dele. Esperava um filho dele que nasceria em pouco menos que três meses. Conversamos sobre a cidade e chegamos ao centro onde a moça ficou em lugar que deveria ser onde ela trabalhava.

Depois de deixar a moça seguimos com o nosso passeio até que entramos numa rua estreita onde o rapaz parou o carro defronte uma casa. Eis que de repente veio ao portão um menino que chamou de pai ao rapaz. Atrás do menino surgiu uma moça sorridente, grávida de uns seis meses conforme eu soube depois. O rapaz convidou-me a descer do carro, dizendo que aquela era a casa dele. Em seguida apresentou-me a moça grávida que, segundo disse, era a mulher dele.

As coisas foram muito bem, tomei um café e logo depois partimos em direção ao hotel onde eu estava hospedado. No caminho não pude me conter e perguntei ao rapaz que raios de história era aquela. Ele se riu muito de minha pergunta e explicou-me que as duas eram mulheres dele, ambas grávidas de fetos que nasceriam mais ou menos na  mesma  época. Disse-me isso com muita naturalidade, afinal para ele a situação era absolutamente natural. Contou-me que as duas mulheres se conheciam, sabiam-se grávidas do mesmo homem e até compravam roupas de bebê juntas.

Hoje a Justiça do Amazonas reconheceu a união estável de um homem com duas mulheres. Verdade que no caso amazônico o homem já tinha falecido e o reconhecimento  se deu para que as duas mulheres possam receber direitos previdenciários e resolver problemas patrimoniais.

Ainda hoje acho estranha a história daquele rapaz a quem conheci e suas duas mulheres, ambas felizes da vida ao dividir o leito com o mesmo homem. Quem sabe a decisão da Justiça do Amazonas venha a ser aplicada a muitos e muitos casos semelhantes que existem nesse Brasil afora.



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