Imagem inesquecível
6 de julho de 1982. Dia de grandes silêncios e tristeza geral. Não me recordo a que ia, mas acabava de atravessar o Viaduto do Chá em direção à Rua Barão de Itapetinga. Foi naquele lugar que vi, estampada na primeira página do “Jornal da Tarde”, a inesquecível fotografia do menino chorando. O menino chorava por todos nós brasileiros, impossível conter a emoção de um choro que me dizia respeito e espelhava a tristeza do dia.
O Brasil inacreditavelmente perdera para a Itália num jogo da segunda fase da Copa do Mundo daquele ano. A fantástica seleção nacional que entre outros contava com Falcão, Zico, Cerezo e Sócrates, dirigida por Telê Santana, perdera por 3 a 2 um jogo em que o empate bastaria para a classificação. Era uma formidável seleção aquela cujos jogadores exibiam um futebol encantador, verdadeiro show. E perdêramos, para desolação da imensa torcida brasileira.
O “Jornal da Tarde” conseguira atingir o coração dos brasileiros ao publicar a foto do menino em sua página de rosto. Dava rosto ao sofrimento geral, àquela sensação de algo perdido para sempre, irrevogável. Estampava a dor que nos ia pela alma. Dor sem remédio que só o tempo faria diminuir. Ainda hoje, ao rever a foto, ainda hoje dói. Aquela fotografia deixou marcado em quem viveu ao tempo da chamada “Tragédia de Sarriá” um momento inesquecível de união nacional.
Eu era estudante em São Paulo e desde logo passei a ler o “Jornal da Tarde”. O diário se distinguia dos outros jornais pela leveza e dinamismo de um jornalismo jovem e aguerrido. De leitura mais rápida e fácil, preenchia muito bem as necessidades de quem não dispunha, durante a semana, de tempo para a demorada leitura de outros jornais.
Hoje foi enterrado o Dr. Rui Mesquita que sempre esteve à frente do “Jornal da Tarde”. Tinha ele 88 anos de idade e recebeu justíssimas homenagens de pessoas que privaram de seu convívio. Muitos foram os que o homenagearam comentando o perfil de luta e seriedade que o caracterizaram.
Fica aqui a homenagem de um leitor desconhecido que acompanhou de longe a trajetória do Dr. Rui e lhe é grato pelo excelente jornalismo que tantas lacunas preencheu no dia-a-dia dos brasileiros. Jornalismo de excelência como aquele praticado no dia seguinte à derrota do Brasil no jogo com a Itália em 1982.