Vendendo tapetes at Blog Ayrton Marcondes

Vendendo tapetes

deixe aqui o seu comentário

A barraca de tapetes fica ao lado de outra, maior, na qual se vendem orquídeas. As pessoas passam pelos tapetes expostos quase sem olhar, atraídas pela festa de cores oferecida pelas orquídeas.

Eu me ajeito perto da barraca de tapetes e fico olhando as pessoas entrando para apreciar orquídeas. A maioria mulheres porque elas adoram flores. O preço parece ser bom porque muitas mulheres saem da barraca carregando vasos. Todas trazem, além das orquídeas, o largo sorriso de um achado inesperado e negócio bem feito.

Puxo conversa com o vendedor de tapetes. É um homem de pouco mais de trinta anos, jeito de gente boa, atencioso. Fico sabendo que ele mesmo faz os tapetes no tear de sua loja. Produz durante algum tempo e quando a quantidade é razoável, sai em seu caminhãozinho, estradas afora, passando de cidade em cidade, vendendo tapetes.

Ele me conta que sua loja de comércio fica numa cidade pequena, interior de Minas Gerais. Ele viaja pela Fernão Dias, seguindo na direção de São Paulo. Quando as vendas são boas não chega a entrar no Estado de São Paulo porque acaba o estoque. Desta vez chegou longe porque está mais difícil vender tapetes. Ele acredita que isso acontece porque a inflação está em alta. Ele diz que quando o preço da comida começa a subir as pessoas se assustam e as compras caem.

O vendedor de tapetes se chama Nelson. Na cidade dele é conhecido como Nelsinho dos tapetes. Ele me convida para visitar a loja dele quando viajar pela Fernão Dias. A cidade é pequena, tem não mais que 15 mil habitantes e lá a vida é calma. Não tem crime, não senhor. Nem é preciso trancar as portas. Todo mundo se conhece. Entrando na cidade é só perguntar para qualquer um onde fica a loja do Nelsinho. Todo mundo sabe, não tem erro, não senhor.

No fim das contas acabo comprando um tapete pequeno do Nelson. O produto e o preço são muito bons. Ao sair penso na vastidão do Brasil e nos pequenos negócios que garantem a subsistência de milhões de pessoas. E dizer que os altos jogos econômicos do governo, os desacertos e desvios, atravessam, camada por camada, o vasto tecido que compõe o mundo dos negócios, chegando ao último degrau onde se situa um vendedor de tapetes numa feira.

Avalia o Nelson que a continuarem as coisas como estão suas viagens se tornarão mais longas: no negócio dele existe uma razão direta entre a elevação da inflação e os quilômetros de estrada a percorrer, cidade após cidade, até conseguir desovar o  estoque de tapetes.

Escrito por Ayrton Marcondes

9 julho, 2013 às 10:25 am

deixe aqui o seu comentário



Deixe uma resposta