Aí gente, Ele, o Sol
Confesso que não tenho confiança no universo. Essa coisa de espaço cheio de constelações e buracos negros, infinito, definitivamente não é confiável. A observação do céu e as sempre intrigantes fotos do “lá fora” me causam desconforto. No meio disso tudo a Terra não passa de um grão de poeira, um nada no qual experimentamos a nossa loucura de estarmos vivos com as nossas idiossincrasias. Nenhuma religião, nenhuma filosofia, parecem ser suficientes para abrandar a sensação de insegurança que me passa essa estrutura gigantesca da qual faz parte o planeta no qual fui geneticamente sorteado para existir.
Tem mais: a dependência do nosso Sol, essa estrelinha pouco mais que nada em meio à imensidão é apavorante. O nosso querido Sol, o que nos fornece energia e permite que a vida exista, será ele confiável? Não haverá naquele entranhado de incandescências uma gestão apocalíptica de explosão inesperada? Espécie de vingança contra o sistema planetário que dele depende?
Mas, quê? Estou a falar mal do belo Sol que nos ilumina e surge radiante aos nossos olhos a cada manhã que começa? Serei eu um desses mal agradecidos que reclamam do astro-rei sem dar a ele o devido valor? Pois que se vejam as fotografias do Sol tiradas pelo telescópio Ibis que nos mostram o forte contraste entre a densidade e a temperatura do astro que nos ilumina. Mas, o que vêm a ser as finas estruturas que aos olhos de um leigo não passam de um incompreensível e confuso emaranhado de coisas aparentemente desconexas, mergulhadas num turbilhão de reações explosivas? Será assim o nosso amigo Sol, aquele que nos proporciona os belos entardeceres, doura a pele dos banhistas e espalha alegrias nos quatro cantos do mundo?
Amigos, o Sol é belo de longe, mas que não se queira vê-lo de perto. Ele nos enternece quando atira seus raios sobre as águas, gerando cores belíssimas. Palavras não bastam para descrevê-lo quando, maliciosamente, se deita no horizonte, escondendo-se do outro lado do mundo, brincando de fazer noites e dias, marcando o ritmo dos calendários.
Sou muito grato ao Sol por tudo o que me proporciona. Mas, não consigo confiar nele, tão grande, tão forte, imenso, brilhante, talvez eterno, mas não nem tanto. Se um dia desses as coisas que as fotos revelam deixarem o seu jeito habitual de ser, rebelando-se contra a natureza de gerar o fogo que nos alimenta, então o nosso mundo desaparecerá como tantos outros astros que, segundo se noticia, somem em meio à grande voragem dos buracos negros que tudo engolem, indistintamente.