E o Jacaré?
Dias atrás reencontrei um amigo a quem não via desde os tempos do ginásio. Cinqüenta anos passados veio ele com sua aparência de papagaio. Na hora me lembrei dele, na verdade do apelido antes do nome. Chamávamos a ele de Papagaio com o que, ao que eu me lembre, ele não se incomodava. Mas, não tive jeito de chamá-lo pelo apelido, sabe-se lá como ele reagiria.
Na minha infância conheci um dono de cartório a quem todo mundo chamava de Jacaré. Aliás,não só a ele como ao seu estabecimento de negócios. Ia-se ao Jacaré para escrituras, certidões e toda a papelada de cartórios. Para mim ele sempre foi o “seo” Jacaré. Esse Jacaré foi vítima de um derrame que o impediu de continuar com o cartório. Recuperado e voltando a trabalhar ele se deu conta de que perdera “apenas” a capacidade de lidar com números. Todo o restante fora preservado em seu cérebro, mas os números…
Vi nos jornais que encontrarm no Brasil o fóssil de um jacaré que viveu aqui a milhões de anos. Era muito feio o tal jacaré, com uma mandíbula longa e fina na ponta. Deve ter sido um predador feroz e seu aspecto meteria medo caso ainda se encontrasse em nosso mundo. Talvez para amenizar o horror provocado pelo seu ancestral hoje se publicou a foto de um simpático jacaré albino que vive no aquário de São Paulo. Não se explicou do que sofre o albino, mas na foto ele está, graciosamente, sendo submetido a uma sessão de acupuntura.
Ao tempo da minha infância nunca me dei conta do porque chamavam de Jacaré ao dono de cartório. Pois tinha ele todo o jeitão desse jacaré albino que vi no jornal. Pelo que se conclui que a maldade humana é infinita e não se perdoa nem mesmo às pessoas que, por sorte ou azar, se assemelhem a animais.