Os enforcados
Confesso que me arrependi de ver pela televisão cenas do enforcamento de Saddam Husseim. Até então homem poderoso, no momento em que foi levado à forca estava despido de sua anterior arrogância. Saddam não tentou disfarçar o medo e o horror estampados em sua face. Seguiu-se o enforcamento, cena terrível na qual o corpo pendurado no ar debateu-se até finalmente quedar-se sem vida.
As imagens do enforcamento de Saddam ficaram na minha memória. Perguntei-me se fosse qual fosse o crime praticado justificava-se executar o criminoso através de enforcamento. Na verdade pensei sobre os processos que culminam com o estabelecimento de penas de morte e ainda agora não sei dizer se sou ou não favorável a elas. Crimes que nos revoltam em geral nos levam a pensar sobre criminosos irrecuperáveis que nada mais merecem que ser eliminados. Entretanto, entre desejar a pena de morte e a prática real dela existe um oceano a ser transposto dado respeito que temos pela vida humana.
Creio que muita gente permaneça na indefinição sobre aplicar-se ou não a pena de morte a criminosos cujos atos terríveis desafiam a nossa compreensão. A morte deles, determinada ou não judicialmente, ainda assim afronta o modo pelo qual encaremos o direito à vida. Daí que não sei dizer se recebi bem ou mal a notícia hoje publicada de que Ariel Castro - o monstro de Cleveland que manteve cativas três mulheres durante dez anos em sua casa - apareceu enforcado na cela em que estava recluso. Castro era um bárbaro no pior sentido da palavra. Abusava sexualmente de suas reféns e submeteu uma delas a cinco abortos. Tão hediondos os crimes que praticou que, após a libertação das mulheres e prisão dele, decidiu-se demolir a casa onde tudo aconteceu. A ideia foi, talvez, a de apagar completamente todos os vestígios do horror que se passara naquele lugar para que nada restasse de memória sobre as ações de Ariel Castro.
Ariel confessou todos os crimes de que era acusado para livrar-se da pena de morte. Condenado à prisão perpétua começara a cumprir sua pena quando apareceu enforcado. A polícia informa tratar-se de suicídio.
Ariel suicidou-se colocando fim em sua malograda vida. Difícil acreditar que alguém nesse mundo tenha lamentado a morte dele. Mas, seria a morte do grande criminoso motivo de júbilo? Pode ser que sim para as mulheres aprisionadas por ele, embora talvez preferissem vê-lo cumprir, dia após dia, sua longa pena.
Não sei dizer com exatidão, mas a morte de Ariel Castro de algum modo traz a sensação de justiça feita, certo conforto por ele ter pagado, ao se enforcar, pelo menos uma pequenina parte do que ficou a dever à sociedade dos homens.