O chamado da guerra
Sempre vi com maus olhos as batalhas travadas em filmes no cinema. Lembro-me bem do filme “El Cid”, estrelado por Charlton Heston, no qual o herói espanhol El Cid consegue reunir católicos e mouros para combater um inimigo comum. A trama se passa no século XI e veem-se na tela batalhas ferozes nas quais espadas com lâminas afiadas roubam a vida de inúmeros combatentes. Finais de batalhas e campos cobertos de cadáveres ensanguentados fazem parte de inúmeros filmes que tratam de conflitos inconciliáveis entre povos adversários.
Cenas de batalhas nos fazem pensar sobre porque os homens se matam. Situações inesperadas servem muitas vezes como estopim para a geração de guerras intermináveis. Nos últimos anos o Oriente Médio tem sido palco de conflitos decorrentes da falência de discursos que propiciariam um mínimo de entendimento. A partir daí governos, rebeldes, extremistas, terroristas, fanáticos religiosos e facções com interesses variados se engajam em lutas para as quais parece não haver esperança de conciliação. Perde-se o fio da meada, nenhum entendimento se torna possível e o mundo passa a assistir a cenas de horror crescente sem que se saiba como colocar ponto final nas ações.
De todo modo quem paga a conta é a população civil em meio à qual as mortes são crescentes. Acontece agora na Síria onde a luta entre o governo do ditador Assad e os rebeldes se desenrola há mais de dois anos. Tamanhas são as atrocidades praticadas por ambos os lados que se enfrentam que na verdade não se sabe como colocar fim ao conflito. Trata-se de uma guerra que há muito passou do ponto, estendendo-se demais e ameaçando até mesmo espalhar-se pelos países vizinhos. A recente comprovação do uso de armas químicas, ocasionando a morte de grande número de crianças revoltou o mundo e pede-se que algo de concreto seja feito. É preciso punir o ditador sírio, evitar que a tragédia continue, mas como?
O presidente dos EUA solicita ao Congresso de seu país permissão para atacar a Síria , mas enfrenta resistência. No Reino Unido o primeiro-ministro não obtém autorização para agir na Síria. O Irã prepara-se para ajudar a Síria em caso de ataque, prometendo atacar áreas de interesses norte-americanos. A Rússia não concorda com a invasão da Síria. Estabelece-se uma Babel enquanto cidades sírias são transformadas em escombros e milhares de pessoas pagam com suas vidas o seguimento da guerra.
Interesses políticos, econômicos, religiosos e de toda ordem gravitam em torno do ódio que se alastra e tira dos homens a capacidade de ouvir apelos de paz. Há algo de muito grave por acontecer no horizonte e teme-se pela extensão dos possíveis reflexos e estragos. De tal ordem é o perigo iminente que mesmo do outro lado do mundo, distantes do foco onde o incêndio se avoluma, teme-se pela eclosão de uma guerra ainda maior, envolvendo potências que vivem às turras porque esse modo de ser parece justificar a razão de existir dos governos.
Não há como conter a sensação de horror provocada pela visão de inúmeros corpos de crianças, estendidos lado a lado no chão, mortas que foram ao aspirar gases venenosos.