Cobertor curto
Fala da mãe que caiu e quebrou o fêmur. Estava em outra cidade quando recebeu o telefonema da filha muito aflita: que fazer com a avó que gemia no chão? A solução foi chamar o porteiro do prédio, sujeito de força que colocou a avó na cama.
A avó já vem doente faz tempo. Nefropata, cardiopata, sobrevive à custa de diálises. O fêmur quebrado é uma tragédia. Ainda mais quando se descobre que o osso quebrou em vários pontos e a cirurgia oferece risco de morte.
Conta que o médico a fez assinar papéis assumindo a responsabilidade senão não operava. Ela assinou chorando, como ficaria se a mãe morresse na mesa? Mas, Deus é grande e a operação foi um sucesso, agora resta cuidar dos curativos e continuar a vida de luta.
A mulher para de falar e abaixa a cabeça. Pensa um pouco, depois sentencia:
- O cobertor é curto.
Pergunto a ela o que quer dizer com isso. Já se levantando para sair responde:
- O senhor bem que sabe.