No mundo da dança
Meus pais sabiam dançar. Gostavam de festas e vez por outra a casa se enchia para algum tipo de comemoração. Na sala havia uma radio-vitrola na qual tocavam-se discos 78 RPM. Eram os anos 50 e os LPs ainda eram raros. Lembro-me de meu irmão trazendo um toca-discos importado, explicando que nele poderiam ser tocados LPs com mais de uma música gravada. Os LPs, discos de vinil, dominaram até os anos 80 quando surgiram os CDs. Hoje em dia verifica-se retorno ao vinil em busca de melhor qualidade de som.
Meus pais dançavam ao som dos poucos discos que tinham. A certa altura meu pai afastava a mesa do centro da sala, abrindo espaço para os passos da dança. Os dois gostavam do tango e músicas interpretadas por gente como Orlando Silva.
Nunca soube dançar, talvez por isso eu não seja muito afeito a musicais. Obviamente, é impossível não se render à beleza de grandes musicais como os apresentados na Broadway que agora vem sendo encenados aqui. Também o cinema tem-nos brindado com musicais fantásticos. Como não gostar do “Fantasma da Ópera”? Ver Gene Kelly, Fred Astaire e Ginger Rogers dançando é, ainda hoje, um colírio para os olhos.
Entretanto, há que se lembrar de que a indústria do cinema nem sempre respeita limites. Houve época durante a qual os cinemas foram inundados por musicais de qualidade inferior. Trocavam-se, simplesmente, falas por cantorias. O sujeito estava dentro de seu apartamento, atendia ao telefone, falava, desligava e, do nada, saia cantando algo que para nós não parecia ter qualquer significado embora as legendas nos ajudassem.
Importa, também, lembrar de que grandes standards musicais até hoje muito executados foram compostos para servirem como trilhas sonoras de filmes ou peças teatrais. Nomes como os de Cole Porter, Irving Berlin e George Gershwin são responsáveis por boa parte das músicas que amamos.
Se tivesse que escolher um musical como o que mais me agradou sem dúvida elegeria “West Side Story” aqui traduzido por “Amor, sublime amor”. Assisti ao filme baseado no musical da Broadway. Inesquecível a disputa entre os rapazes dos “Jets” e dos “Sharks”, a beleza de Natalie Wood no papel de Maria e a incrível trilha sonora do maestro Leonard Bernstein. Oscar Peterson gravou as músicas de “West Side Story” num disco que tem o mesmo título. “Tonight” é lindíssima e vale a pena ouvi-la ao som do piano de Peterson.
Finalmente, não dá para não citar as cenas gravadas pela minha retina de menino, nas quais meus pais dançam na sala de uma casa que já não existe. Para os meus olhos de menino eram de grande beleza aquelas cenas de um musical comandado por discos de 78 RPM. É assim que gosto de me lembrar de meus pais, encontro-me com eles e os deixo dançando num baile sem fim.