O outro lado da beleza
Uma criança nasce na rua em Salvador-BA. Alguém tira uma foto que é publicada na primeira página de um grande portal da Internet. A criança é flagrada justamente no momento em que vem ao mundo, ainda presa pelo cordão umbilical. Não se vêem o rosto da mãe, nem suas partes íntimas: a foto é tirada de cima revelando as pernas fletidas, abertas e bastante sangue.
Acaso ou não, a foto é chocante e nos leva a perguntar sobre a utilidade de sua publicação. A simplicidade das roupas da mãe, o sangue, o bebê seguro pelas mãos de algum passante, tudo ali é documentado inutilmente. Embora os participantes da cena não sejam identificados, expõe-se publicamente a intimidade de momento único de suas vidas.
A beleza do parto e início de uma nova vida é intrínseca, superior; o outro lado dessa beleza, seus aspectos visuais tingidos de escarlate pertencem, exclusivamente, a mãe e à criança que acaba de nascer.