A “ordem natural”
Não há coisa que nos faça pensar mais sobre a brevidade da vida que olhar velhas fotografias. Temo que as fotos digitais contribuam para enfraquecer as memórias fotográficas. Hoje em dia qualquer pessoa dispõe de uma câmera que permite a ela clicar a vontade. Nada parecido com o que ocorria em passado recente quando os filmes das máquinas tinham 12, 24 ou 36 poses. Então era melhor pensar um pouco antes de bater a foto dada a limitação do número de negativos. Agora se fotografa tudo por conta da existência de dispositivos dotados de grande capacidade de armazenamento.
O problema é justamente que fotos digitais ficam armazenadas em HDs, CDs e pen-drives. Nem todo mundo imprime essas fotos porque pode-se acessá-las no computador a qualquer momento. Essa situação é bem diferente daquela em que levávamos os filmes para serem revelados e as fotos escolhidas eram impressas. As minhas fotos antigas estão bem guardadas em caixas as quais procuro quando quero vê-las.
Pois é. O problema começa quando por acaso damos com uma dessas caixas e decidimos dar uma olhada no conteúdo delas. De repente, temos nas mãos fotografias de pessoas já mortas com quem convivemos no passado. Revê-las, ainda que estáticas no papel fotográfico, nos desperta lembranças. É quando revivemos situações das quais participaram pessoas desaparecidas. Lembro-me, por exemplo, da casa de meus pais e de coisas que eram importantes para eles na época em que viveram. A morte colocou fim a preocupações que para eles se figuravam eternas. Empenhados nas questões do dia-a-dia não nos permitimos raciocinar sobre o fato de que, afinal, tudo termina até mesmo a vida.
Queira-se ou não a regra que comanda esse mundo é a “ordem natural” contra a qual nada se pode fazer. Nascimento, vida e morte fazem parte de um pacote que recebemos ao sermos concebidos através da união carnal de nossos pais. A partir daí as águas do rio seguem inexoravelmente o seu curso e nada pode deter a passagem do tempo. No fim das contas talvez o que reste daquilo que somos nada mais seja que uma fotografia amarelecida guardada numa caixa.
Mas, que fazer se essa é a “ordem natural” sobre a qual não podemos interferir?