Os inimigos de olhos puxados
Onde fica a Birmânia? Pouca gente sabe. Para começar, o país já não se chama Birmânia: desde 1989 passou a se chamar Mianmar. Localiza-se no Sudeste Asiático, entre Bangladesh e Tailândia e é banhada pelo Mar de Andaman e a Baía de Bengala.
Mianmar vive sob uma ditadura e permanente crise política e social. A oposição é reprimida, não há liberdade de imprensa e grupos étnicos são perseguidos.
Eu jamais pensaria na Birmânia se no domingo à noite, procurando alguma coisa para fazer, não tivesse assistido ao filme Rambo IV que está em cartaz na rede Telecine. Não é o tipo do filme que se recomende, várias vezes pensei em desligar a televisão, mas fui vencido pela curiosidade sobre a Birmânia.
Todo mundo conhece John Rambo, o personagem de Silvester Stallone. O cara é demais. Ele sempre está quieto em seu canto quando alguma necessidade de salvar pessoas ou uma encrenca da qual ele não esperava participar acontece, envolvendo-o na trama. A partir daí sabemos que tudo vai dar certo no final tendo como recheio o fato de que Rambo exterminará, quase sozinho, exércitos inteiros.
Desta vez Rambo mata centenas soldados de olhos puxados. É bom lembrar que os tradicionais inimigos dos heróis do cinema norte-americano têm olhos puxados ou são mulçumanos terroristas. Isso faz parte de uma cultura que coloca os EUA como salvadores do mundo e que Barak Obama vem tentando minimizar. Recentemente o presidente fez visita ao mundo islâmico e declarou que “os EUA não estão e nunca estiveram em guerra contra o Islã”.
Será considerável o esforço a ser despendido por Obama para que o mundo veja os EUA de modo diferente. Terá contra seu projeto toda a história de pressões e interferências sobre outros países, quase sempre atendendo aos interesses maiores dos EUA. Isso sem falar na cultura de seu próprio país. Nesse sentido talvez seja importante que a indústria do cinema reveja a natureza de algumas das suas produções como esse Rambo IV que, aliás, não vale a pena assistir.