Afogamentos
Confesso: sempre tive medo de águas daí que nunca me arrisquei a nadar. Em viagens de navio sempre me pergunto o que me aconteceria em caso de naufrágio. A tragédia do Titanic sempre me fascinou e o premiado filme forneceu-me as imagens de desespero que me faltavam em relação ao rumoroso caso.
No meu caso o medo se justifica: perdi dois irmãos por afogamento. A história parece ficcional dado que quando crianças os dois irmãos cairiam num riacho. O menor morreu e o maior safou-se. Passados vinte anos aquele que tinha se salvado afogou-se nas águas de uma lagoa. Episódio terrível, comovente, inesquecível.
Moro no litoral e ainda me surpreendo com o número de afogamentos que acontecem na região. A proximidade com os grandes centros e a facilidade de acesso movimentam muita gente que procura praias em fins de semana para se divertir. Pessoas que não possuem a menor intimidade com o mar arriscam-se e acabam por perder a vida. Isso sem falar nos que se aventuram em pescarias e não voltam.
Li que em São Paulo ocorrem frequentes afogamentos na represa Billings a qual é muito perigosa. A proximidade das casas com a represa gera a possibilidade de pessoas entrarem na água para um banhozinho que pode ser fatal. De nada adiantam as advertências de bombeiros, alertas de salva-vidas e placas avisando sobre perigo. A ideia de que isso nunca vai acontecer comigo é maior que o medo, funcionando como estopim para possíveis afogamentos.
Noticiaram-se nos últimos dias dois afogamentos de pessoas durante a prática de esportes aquáticos. Ontem um empresário afogou-se durante treinamento de stand-up paddle, esporte que se pratica com prancha e remo. Divulgou-se que em ambos os casos as vítimas não sabiam nadar. Praticar esporte aquático sem saber nadar configura-se num risco inaceitável.
Ouvi pelo rádio um bombeiro fazendo alertas sobre o perigo de afogamentos. Explicou ele que o socorro a quem está se afogando nunca deve ser dado diretamente por alguém que não possua algo que possa boiar. Disse que até um estepe de carro pode ajudar, mas enfatizou que pessoas não treinadas podem morrer junto com a que está se afogando.
Não gosto de filme sobre tsunamis. Assisti na TV a um cujo título é “Impossível” e fiquei chocado com a força destruidora da água. Nessa situação nadar talvez seja útil, mas o problema é a colisão de objetos com os corpos das pessoas carregadas pela água. Sobreviver a essas condições é verdadeiramente um milagre.
Vi no jornal a foto dos familiares do empresário, aguardando a retirada do corpo dele da água. Lembrei-me da madrugada em que meu pai voltou para casa e contou sobre a retirada do corpo de meu irmão das águas do lago. Eu tinha uns seis anos de idade na ocasião e posso descrever com precisão o horror que se desenhou no rosto de minha mãe ao receber a notícia. Éramos um grupo ferido pela morte absurda, mas eu não fazia, na época, ideia da extensão daquela dor.
O tempo pode cicatrizar feridas, mas nunca as cura de verdade.