A preferência do público
Eram três homens sobre um palco mal ajambrado. Cada um trazia sobre o corpo vestígios de fantasias nunca acabadas. Dos três destacava-se um sujeito alto, bonachão, cara de gente boa e capaz de curiosos movimentos muito engraçados. Mas, mexiam-se os três ao som da banda que tocava o axé que se tornou a música do carnaval.
Cabia ao público da rua decidir quem, entre os que se apresentavam, seria o vencedor como melhor folião. O cara com a máscara de Batman fazia o possível. O outro era um baixinho que pulava o tempo todo, meio desconectado da música, mas dando suor e sangue no que fazia.
E veio o som do Leco Leco. O sujeito alto esmerou-se, deixando para trás os outros concorrentes. Até que que a banda parou e chegou o momento do apresentador perguntar ao público, isso após apontar cada um dos concorrentes: ‘É esse?”, ‘É esse?”, ‘É esse?”.
E o “esse” escolhido foi o baixinho que macaqueara o tempo todo, pulando como se disso dependesse salvar a vida dele.
Pois não é que gostaram do baixinho? De nada valeu a melhor performance do sujeito alto que saiu do palco com um sorriso forçado estampado no rosto. Valeu ali a preferência do público gerada talvez por códigos complexos, difíceis de serem assimilados.
Em ano de eleições no qual será decidido o futuro governo do país dá certo medo pensar na preferência do público. Que fatores serão levados em conta pelo eleitor no momento em que se recolher à solidão da urna?
Pois é dessa estranha conjunção de tendências, simpatias e interesses que será eleito aquele(a) que governará o Brasil nos próximos anos. Pena que em grande parte dos casos a escolha não será feita visando-se objetivamente o que o país e os cidadãos precisam para garantir uma vida melhor.
Mas, falar sobre isso talvez realmente não importe. Afinal, no fim das contas quem manda no jogo é a preferência do público.