Ladrões de galinhas
Nos interiores desse imenso Brasil as pessoas que mantém criações de galinhas em seus quintais sabem que é preciso cuidar bem delas. Não é incomum que algum gajo passe a mão num galináceo de vizinhos, tratando de enriquecer a sopa noturna. Furtar galinhas é coisa que faz parte do cotidiano de inúmeros lugares. Portanto, um olho no que estiver fazendo, outro no quintal.
Na cidazinha onde nasci havia todo tipo de gente, inclusive aqueles que sabía-se dedicados ao furto de galinhas. Vivia no lugarejo aquele Hilário, italiano que emigrara para o Brasil depois da Grande Guerra. Verdade que o Hilário era um veterano cuja cabeça não funcionava lá muito bem, consequência de trauma adquirido nas batalhas de que participou. De modo que o negócio do Hilário era comer gatos, pasmem. Vivia ele atrás dos pobres bichanos e, quando os capturava… bem você já imagina o fim da história.
Eu havia me esquecido da existência dos tais ladrões de galinhas até ler na edição de ontem do jornal “Zer Hora” de Porto Alegre o estranho caso de um homem que, certo dia, deu pela falta de de um galo e uma galinha em seu quintal. Avisado de que um rapaz de 25 anos tinha sido visto com as aves o proprietário acabou recebendo-as de volta, devolvidas que foram por quem as furtara.
Esse seria o fim da história não fosse o dono das galinhas ter dado queixa na polícia. Depois disso, seguiram-se várias fases de um processo girando em torno do furto de bens cujo valor estimado era de R$ 40,00. Em primeiro lugar o juíz da comarca aceitou a denúncia do crime embora a defensora pública a serviço do rapaz tentasse trancar o processo baseada no princípio da insignificância. Como o mesmo princípio tentou- se inutilmente trancar o processo no STJ. Degrau por degrau, sempre subindo, não é que hoje o processo chegou ao STF? Quem o recebeu e determinou que não fosse encerrado foi o ministro Luís Fux, o mesmo ministro que vimos participando das sessões de julgamento do mensalão.
Então, o caso do furto de duas aves chegou à mais alta corte do país. O furto aconteceu na cidade mineira de Rochedo de Minas cuja população é de 2,6 mil habitantes. O rapaz que furtou as aves nunca foi preso e o processo será julgado mais à frente no STF. No jornal “Zero Hora” comenta-se o paradoxo da mais alta corte do país que tem pela frente decisões sobre temas como o uso de drogas para consumo próprio, a legalidade do “Mais Médicos” e outros julgamentos relevantes também tratar de furto de galinhas.
Interessante, não?